23 novembro 2006

Ministra Matilde Ribeiro


Entrevista - Ministra Matilde Ribeiro

Um passo pequeno para uma mulher, um passo imenso para toda uma etnia: a ministra chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, tem um orçamento que mal passa de 20 milhões de reais por ano, mas é a primeira vez, em mais de 500 anos da história dos negros no Brasil, que existe um ministério específico para promover a igualdade racial, envolvendo também índios e ciganos, palestinos e judeus. Filha de roceiros, foi empregada doméstica e operária para custear seus estudos e se formou em Serviço Social na PUC de São Paulo. Envolveu-se no movimento feminista, no movimento negro e no PT e, numa ascensão meteórica, se tornou ministra. Ela esclarece que as cotas não são primordialmente para negros e índios, mas para os carentes oriundos das escolas públicas, inclusive brancos, com as cotas sendo distribuídas segundo uma nota de corte e de acordo com a proporção das etnias em cada Estado. Para ela, a conquista principal do movimento pela igualdade racial não são as cotas, nem a sua Secretaria – mas o reconhecimento, pelo Estado e pela sociedade, de que existe racismo no país, estando em desaparecimento o mito da “democracia racial”. E, nesta entrevista, ela é taxativa: é melhor que haja brancos ressentidos por terem nota, mas não terem vaga, do que não haver negros no ensino superior.

leia a entrevista aqui

22 novembro 2006

Mídia e direita: que sejam felizes




Mídia e direita: que sejam felizes

Por Gilson Caroni Filho

Muito se tem escrito sobre a reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva e a derrota dos chamados “formadores de opinião". Sem dúvida, o segundo mandato de Lula pôs a nocaute o campo jornalístico brasileiro, seus estatutos de verdade e a crença nos dispositivos que regulam a relação entre os responsáveis pela produção e difusão do noticiário..

Um misto de perplexidade e consternação já havia tomado conta de nove entre 10 colunistas quando, em meados de abril, o instituto Datafolha publicou pesquisa sobre intenção de votos para presidente. Lula, apesar do bombardeio midiático, mantinha estável sua liderança . Em artigo para o Observatório da Imprensa (“Datafolha rasga fantasia iluminista da Imprensa”, edição 376, 10/4/2006) alertamos para o fato de estarmos diante de algo que merecia reflexão mais séria da própria imprensa sobre seu papel na sociedade.

Destacamos que "mais que a inviabilidade eleitoral do ex-governador paulista, o instituto talvez tenha capturado um dado de extrema importância: a deslegitimação do discurso jornalístico e das representações que estão por trás dele. Salientamos também que “da seleção e organização de informações à edição, temos visto, em quase todos os veículos, a orientação editorial condicionar o conteúdo da reportagem. A negligência investigativa transformou-se no foco adequado a um jornalismo marcadamente de campanha. Ora, a crise do atual governo é, em grande parte, uma realidade produzida por recortes de mídia. Não poucas vezes, o dado concreto cedeu lugar à imaterialidade midiática. Indícios viraram manchetes. E, não tenham dúvida, estas reaparecerão na campanha eleitoral. O resultado é a saturação que deslegitima o fazer jornalístico como práxis ética”. Mas o ódio classista não comportava inflexões.

A forma como o discurso noticioso se organizou e se reproduziu é algo que talvez só encontre paralelo nos episódios que levaram Getúlio Vargas ao suicídio, em 1954. Ou ao golpe militar, 10 anos depois. Redações e ilhas de edição se transformaram em trincheiras do udenismo redivivo. Articulistas, colunistas e jornalistas-blogueiros disputavam entre si quem melhor reencarnaria Carlos Lacerda. Ainda não haviam percebido que se lhes sobrava a determinação do colunista e parlamentar golpista, faltavam-lhes a substância e os recursos estilísticos daquele que ficou conhecido como o “Corvo". Mas havia uma aposta, e ganhá-la transformou-se em questão pessoal, depois que o patronato liberou a besta-fera que havia em cada um.

O que não perceberam é que a empreitada estava fadada ao fracasso por um motivo simples. A sociedade patrimonialista, cordata e gelatinosa que o colosso midiático julgava ter em mãos ficara em algum lugar do passado. A democracia ampliada já não comportava alternância intraelites. O componente classista estava pronto para ingressar no jogo político. O apoio a Lula não era expressão de um consenso passivo e os que provaram o gosto da cidadania recém-adquirida não estavam dispostos a chancelar retrocessos. As classes populares queriam algo além de uma participação vicária, isto é, exercida por representantes que não pertenciam a ela. A inserção direta na esfera política estava sendo consolidada por movimentos sociais que, sem perder autonomia, dialogavam com o governo. Os setores mais lúcidos da esquerda não alimentavam ilusões rupturistas. Erros passados não se repetiram. Não houve quem confundisse chegada ao governo com tomada do poder.

Talvez esteja aí o equívoco capital do campo jornalístico. Embevecido com a centralidade que desempenha no processo político, ignorou as mudanças ocorridas na formação social em que atua. A maioria dos articulistas ainda se julgava membros de um "parlamento sem voto". Senhores da informação, tutores da opinião. Quanta ilusão perpassou o facciosismo, o ódio de classe e a índole golpista desses respeitáveis senhores e senhores das mais conceituadas publicações brasileiras.

No auge da crise, em 2005, julgavam que o PT e Lula estavam feridos de morte. Apostavam na obstrução de canais políticos e em crise institucional. Enquanto CPIs disputavam holofotes, os principais analistas vaticinavam que, sobrevivendo ao turbilhão, Lula chegaria a 2006 sem base partidária e, se tentasse a reeleição, o faria apoiado por seu carisma e um populismo que lhe traria votos dos grotões.

Um ano depois, vêem o presidente reeleito, com excelente desempenho eleitoral da sigla. Lula conta com o apoio de 16 governadores (eram três em 2002) e amplo respaldo dos principais movimentos organizados. Se o PT precisa investigar os responsáveis por procedimentos internos que chamuscaram seu capital simbólico, a imprensa deve afinar sua banda antes de querer impor ao governo reeleito a agenda dos derrotados.

Na edição de 28/12/2005, de Veja, Diogo Mainardi escrevia “Passei o ano todo amolando Lula. Dediquei-lhe mais de trinta artigos. Fracassei. Prometo derrubá-lo em 2006". O bolor udenista do inculto colunista de Veja demonstra o quanto a direita empobreceu estilisticamente. Mas o que talvez mais incomode a mídia brasileira esteja no rescaldo da crise. Clóvis Rossi, Eliane Cantanhêde, Josias de Souza, Fernando Barros, Merval Pereira, Dora Kramer e Ricardo Noblat, entre tantos outros, sofreram um sério revés. Ao "maianardizarem" parecem não ter notado que seus leitores cativos ficariam restritos à direita mais reacionária, ressentida e atrasada. Como afirmava Herbert de Souza, o saudoso Betinho, “toda informação é uma proposta ou elemento de formulação de proposta”. Quando aceita, a união é estável e duradoura. Que sejam felizes. Por que não? Jornalistas e leitores militantes também merecem a felicidade. Mesmo que ela surja de um pequeno ruído.

20 novembro 2006

Nastassja Kinsk

Angelina Jolie


01 novembro 2006

Fernanda Abreu - Rio 40 graus

Fernanda Abreu - Rio 40 Graus

rio 40 graus
cidade maravilha
purgatório da beleza e do caos

capital do sangue quente do Brasil
capital do sangue quente
do melhor e do pior do Brasil

cidade sangue quente
maravilha mutante

o rio é uma cidade de cidades misturadas
o rio é uma cidade de cidades camufladas
com governos misturados, camuflados, paralelos
sorrateiros ocultando comandos

comando de comando submundo oficial
comando de comando submundo bandidaço
comando de comando submundo classe média
comando de comando submundo camelô
comando de comando submáfia manicure
comando de comando submáfia de boate
comando de comando submundo de madame
comando de comando submundo da TV
submendo deputado - submáfia aposentado
submundo de papai - submáfia da mamãe
submundo da vovó - submáfia criancinha
submundo dos filhinhos

na cidade sangue quente
na cidade maravilha mutante

rio 40 graus...

quem é dono desse beco?
quem é dono dessa rua?
de quem é esse edifício?
de quem é esse lugar?

é meu esse lugar
sou carioca, pô
eu quero meu crachá
sou carioca

"canil veterinário é assaltado liberando
cachorrada doentia
atropelando na xinxa das esquinas
de macumba violenta
escopeta de sainha plissada
na xinxa das esquinas de macumba gigantesca
escopeta de shortinho de algodão"

cachorrada doentia do Joá
cachorrada doentia São Cristóvão
cachorrada doentia Bonsucesso
Cachorrada doentia Madureira
Cachorrada doentia da Rocinha
cachorrada doentia do Estácio

na cidade sangue quente
na cidade maravilha mutante

rio 40 graus...

a novidade cultural da garotada
favelada, suburbana, classe média marginal
é informática metralha
sub-azul equipadinha com cartucho musical
de batucada digital

meio batuque inovação de marcação
pra pagodeira curtição de falação
de batucada com cartucho sub-uzi
de batuque digital, metralhadora musical

de marcação invocação
pra gritaria de torcida da galera funk
de marcação invocação
pra gritaria de torcida da galera samba
de marcação invocação
pra gritaria de torcida da galera tiroteio
de gatilho digital
de sub-uzi equipadinha
com cartucho musical
de contrabando militar

da novidade cultural
da garotada da favelada suburbana
de shortinho e de chinelo
sem camisa carregando
sub-uzi e equipadinha
com cartucho musical
de batucada digital

na cidade sangue quente
na cidade maravilha mutante

rio 40 graus
cidade maravilha
purgatório da beleza e do caos
Foguete de Mentos e Coca 2
Rocket Mentos
Coke n Mentos (Não tentem fazer isto em casa)
Coca Light com Mentos

Paulo Caruso