29 dezembro 2009

Venha participar de Não quero fingir que não vi!

comunidade,social,crítica,protesto
DeSoRDeM
Olá meus queridos. Conto com a colaboração de vocês. Na verdade é uma tentativa. Vamos ver se funciona.
E que em 2010 deixemos de fingir que não vemos.

Abraços.

Nilo dos Anjos
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Unidos, podemos quebrar modelos fracassados, mudar, criar! Chega de aceitar esse modelo de sociedade que valoriza o ter e não o ser.
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Avatar (Crítica) : Breno Ribeiro

Depois de não uma, mas duas impressões do filme, Avatar, de James Cameron, dispensa qualquer parágrafo introdutório.

Avatar
Por Breno Ribeiro

Há 12 anos atrás, era lançado o longa Titanic, dirigido e escrito pelo diretor James Cameron. Assim como seus filmes anteriores, Exterminador do Futuro original e a sequência, True Lies e a continuação de Alien, o romance a bordo do transatlântico foi um grande avanço no que diz respeito à tecnologia de efeitos visuais da sétima arte. Uma réplica em menor escala foi criada, por exemplo, para cenas que filmavam o navio por inteiro ou que se passavam em algumas partes específicas no exterior do mesmo. Outras réplicas foram feitas para as cenas do naufrágio onde, ao fim, foram adicionadas digitalmente água, fumaça e as pessoas que morriam durante a tragédia. Entretanto, mesmo diante da magnitude de seu último filme, Cameron conseguiu, em termos de efeitos visuais, superar a si mesmo na megaprodução Avatar.

Seguindo a linha sci-fi que marcou os primeiros trabalhos do diretor, o longa acompanha a história de Jake Sully (Sam Worthington), ex-fuzileiro naval que se tornou paraplégico durante uma guerra na Terra. Porém, depois da morte do irmão gêmeo, Jake é o único que tem um DNA compatível para controlar a réplica artificial – conhecida como Avatar – da raça extraterrestre Na’vi e, assim, se infiltrar no pitoresco planeta Pandora a fim de coletar as informações necessárias para os humanos. Entretanto, diante do novo mundo a sua frente e da cultura e costumes dos Na’vi, Jake se vê entre ajudar os humanos ou lutar ao lado dos extraterrestres para proteger Pandora.

Foram construídas para o filme réplicas quase perfeitas dos bustos dos atores principais com características Na’vi (como orelhas pontudas e crânios maiores). Além disso, uma nova tecnologia foi utilizada para capturar as expressões de face e dos olhos dos atores: uma versão melhorada do efeito que criou, por exemplo, a criatura Gollum na trilogia O Senhor dos Anéis, o qual consistia em vários pontos ligados ao corpo do ator que seriam usados para criar o movimento da criatura. Com a técnica aprimorada de Cameron, que envolve ainda uma espécie de capacete com uma microcâmera na frente focando o rosto de quem o utiliza, os movimentos e expressões do elenco são capturados quase 100% e transportados para os personagens azuis. Desta forma, diferentemente do que acontecia com a criatura da Terra Média, em Pandora, os atores que ‘encenam’ os Na’vi podem ser prontamente reconhecidos, o que ajuda na identificação com os mesmos.

Para encarnar a raça azul de Pandora, cada personagem precisa se deitar em uma espécie de câmara e fechar os olhos, como se fosse dormir. É, portanto, interessante notar que ao fecharem os olhos, tais personagens são transportados para um mundo completamente novo que só poderia existir em sonhos. Pandora é talvez o melhor universo já criado para o cinema. Com uma fauna hostil – e de uma complexidade física que deve ter tirado noites de sono da equipe de efeitos – e uma flora de encher os olhos – das mais simples sementes flutuantes às duas árvores principais de Pandora, o planeta possui os mais belos tons já postos junto, como o roxo vibrante dos céus e o azul quase fluorescente de algumas plantas. O ambiente é tão encantador e belo que nem ao menos chegamos a questionar o personagem de Sam Worthington quando o mesmo pára durante uma expedição para brincar com flores que murcham em espiral quando tocadas ou quando ele se distrai em uma conversa com plantas cujas folhas ficam fluorescentes quando apertadas.

Não só a equipe de efeitos visuais está de parabéns, mas também aquela responsável pela criação da cultura Na’vi. Embora muito tenha sido mostrado ao longo do filme sobre a raça de três metros, ao final dos rápidos 161 minutos de projeção ainda há uma sensação de que poderíamos aprender muito mais com aquela maravilhosa espécie se tivéssemos tempo. Além disso, a língua Na’vi, embora soe estranhíssima, é usada ao longo da trilha sonora de James Horner (que também compôs Titanic e Aliens) em curtos corais. As composições de Horner são, ainda, perfeitas para cada momento do longa, dos afetos e amor entre Jake e Neytiri (Zoe Saldana) às cenas da épica guerra final. Por outro lado, a música-tema do projeto, “I See you”, distoa do filme em sua totalidade por focar em um dos aspectos secundários da trama.

Mesmo com as limitações que o uso da tecnologia de Cameron traz, Sam Worthington, Zoe Saldana e Sigourney Weaver conseguem dar a seus personagens a profundidade e emoção desejada em cada cena, tendo Zoe Saldana conseguido emocionar mesmo como Na’vi nativa. Contudo, o destaque fica por conta de Stephen Lang e seu raso vilão, Quaritch, que possui as falas mais divertidas do longa (“Não está acabado enquanto eu estiver respirando.”)

Diferente do trabalho anterior de Cameron como roteirista, o atual projeto do diretor não se baseia exclusivamente em um romance sem sal. Há romance, sim; porém ele é agora natural e apenas um dos fios condutores da trama. O que move a trama é a ambição dos humanos em relação às riquezas de Pandora, o que de certa forma remete a prática colonialista comum de séculos/anos atrás. Ainda, embora não comentado expositivamente ao longa da história, há referências claras à destruição natural causada pela chegada do homem (algo emblematizado pela cena da Árvore-casa, “Hometree” no original) que podem ser inferidas a partir de certas falas, como “Eles mataram a Mãe deles. Agora vão matar a de vocês.” Todavia, o roteiro e o desenvolvimento do mesmo contém falhas difíceis de ignorar e que soam, de certa forma, maniqueístas – sendo um bom exemplo o fato de uma certa arma ser usada contra um certo helicóptero (se é que se pode chamar assim) e não surtir efeito e, cenas depois, em uma situação contrária, a mesma arma funcionar contra um veículo voador do mesmo tipo do outro.

É, porém, altamente aconselhável que o filme seja assistido, se possível, em algum cinema em 3D. A tecnologia, que vem sendo altamente utilizada atualmente, atinge com o diretor James Cameron um novo significado. Nada de objetos sendo lançados em direção à câmera para lembrar o espectador de que ele está assistindo a um filme 3D. O que se vê aqui são efeitos em terceira dimensão singelos e que surgem naturalmente – o 3D é criado em função da narrativa e não o contrário. De pequenos mosquitos voando, sementes flutuantes e cinzas a curtas cenas de perseguição na floresta, o 3D é tudo menos evasivo.

Inovação é a palavra de ordem em Avatar. Inovando desde os efeitos especiais até a nova tecnologia 3D, o longa prossegue lançando o espectador cada vez mais para dentro do universo particular concebido na mente do diretor, sem com isso perder o fio da meada da trama. Diz-se que talvez haverá sequências para o filme. Depois de ver a pequena porção de Pandora que vi, não posso negar o gostinho de querer conhecer mais daquele maravilhoso planeta. Em todo caso, eu Vejo vocês lá.

28 dezembro 2009

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Olá meus amigos. É só uma tentativa. Quem quiser participar, seja bem vindo!

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Olá meus amigos. É só uma iniciativa mas pode render alguns frutos. Quem quiser participar por favor não se acanhe. Nilo.

Que em 2010 deixemos de fingir que não vemos!!!
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22 dezembro 2009

Tiê interpreta "Chá verde" no Estúdio Showlivre

Simples e lindo!! E linda!!!

Enc: O velho e o novo



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---
De: Paulo Roberto
Assunto: O velho e o novo

O velho e o novo


Miriam Leitão

A COP-15 não mudou o mundo, mas mudou o Brasil. A Conferência do Clima e a competição eleitoral fizeram a posição do Brasil se mover na direção certa. Há três meses, o Brasil tinha um discurso velho. Hoje, tem metas e um caminho. Um erro foi nomear a ministra Dilma como chefe da delegação. Sem ter nada a ver com coisa alguma, ela se apagou na negociação.

COP não é palanque. Aqui, em Copenhague, travou-se uma batalha de sutilezas escorregadias, de detalhes técnicos complexos, de linguagem cifrada. Numa situação assim, é fundamental conhecer o terreno, a técnica e o tema. Dilma Rousseff é recém- chegada à questão climática. Na verdade, seu histórico é hostil à causa que motiva todo esse esforço. Ao ser escolhida, ela imprimiu à atuação brasileira um amadorismo insensato. Além disso, neutralizou alguns dos nossos mais bem treinados negociadores.

O patético final da Conferência deixou a confusão brasileira mais aparente. Todo mundo foi saindo, e o ministro Carlos Minc assumiu a negociação, apesar de ter sido expressamente afastado de outras etapas das conversas e destratado pela ministra Dilma na primeira entrevista em Copenhague. Foi Carlos Minc que tirou o Brasil da envelhecida posição de se negar a assumir compromissos de redução da emissão. E foi apenas por ter mudado sua posição que o Brasil não chegou a Copenhague em situação constrangedora.

Na noite da última sexta, no fim da Conferência, um dos remanescentes da equipe brasileira era o embaixador especial do Clima Sérgio Serra. Apesar do título do seu cargo, Serra para entrar na salas das conversas precisava do crachá deixado por Marco Aurélio Garcia, outro que não se sabe o que fazia em Copenhague.

Na noite da negociação entre os 25 chefes de Estado, de quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, veterano de COPs, subiu o elevador do hotel onde estava hospedado com rosto de desconsolo, depois de admitir a jornalistas que não sabia o que estava acontecendo. Celso Amorim foi, entre outras reuniões, o grande negociador de Bali, onde, junto com a então ministra Marina Silva, trabalhou na negociação do Mapa do Caminho.

Na noite do Bella Center, o presidente Lula foi para uma reunião dos chefes de Estado sem Amorim e sem o embaixador Luiz Alberto Figueiredo. Os dois têm experiência, são profissionais treinados.

Quando Dilma Rousseff chegou a Copenhague, Figueiredo teve que acompanhar a ministra em reuniões que não tinham nada a ver com o andamento da negociação. Visivelmente constrangido.

Dilma, nos primeiros dias, se dedicou a atividades políticas para a delegação brasileira, que tinha o extravagante número de 700 pessoas. Fez discursos políticos para os aplausos dos áulicos em que confundia conceitos elementares do mundo climático, ou tropeçava nos atos falhos. A atividade formal à qual tinha que ter ido era a abertura oficial do segmento ministerial. Ela era a $brasileira nesse segmento. Na hora da reunião com o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, o príncipe Charles e a Nobel Wangari Maathai, Dilma convocou uma coletiva, na qual se dedicou a criticar a proposta feita pela senadora Marina Silva e pelo governador José Serra, seus prováveis competidores nas eleições de 2010. Aliás, a proposta de doação brasileira para um fundo foi defendida depois pelo próprio presidente da República.

Houve momentos constrangedores. Quando chegou à primeira reunião, para ser informada do que estava acontecendo na negociação cuja chefia ela iria assumir, a pergunta feita por Dilma Rousseff foi:

— Qual é a agenda da Marina e do Serra?

De Copenhague, também ela se mobilizou para adiar a votação de um projeto que poderia desafinar com o discurso feito pelo Brasil aqui. Era o projeto chamado "Floresta Zero". Outro foi aprovado com o apoio e mobilização da base parlamentar, o que reduziu os poderes do Ibama e deixou aos estados o poder de decisão sobre a reserva legal.

O governo brasileiro começou a mudar tão recentemente que os sinais da velha forma de pensar estão em todos os lugares. Por isso, a lei de mudança climática aprovada no Congresso tem escrita a seguinte sandice: diz que as metas são voluntárias. Alguém já viu uma lei que estabelece que aquilo que legislou é voluntário? Se está na lei, é lei.

A participação brasileira ganhou musculatura quando o presidente Lula chegou e estabeleceu seu contato direto com os outros chefes de Estado, mas ter ido embora, antes do fim, levando a chefe da delegação, já mostrava como foi sem sentido sua decisão de nomeá-la.

A estratégia político-eleitoral do Planalto era aproveitar a COP e pôr a ministra-candidata em contato com grandes líderes, produzir declarações e imagens para ser usadas na campanha. Em outros eventos está sendo feito isso. Mas numa negociação como essa a decisão foi a mais sem sentido que poderia ter sido tomada. Com o aumento da tensão negociadora, o Brasil foi se apagando na mesa de negociação, em parte porque os especialistas foram afastados e em parte porque ela não tinha condições de chefiar o grupo.

A reunião de Copenhague ficará na História como um momento de insensatez das lideranças do mundo. Em que se desperdiçou uma oportunidade de ousar e construir o futuro. Em que se escolheu uma resposta medíocre diante de um vasto desafio. Para o Brasil, ficou este outro sinal assustador: de que o governo quer usar qualquer momento, mesmo o mais inadequado, para montar palanques para a sua candidata.



15 dezembro 2009

RACISMO E PSICANÁLISE

O « BANZO » DO CONDE DE GOBINEAU
NO BRASIL



Paulo de QUEIRÓS SIQUEIRA (psiquiatra, psicanalista)
Tradução:Eliezer de HOLLANDA CORDEIRO


Poucos escritores franceses do Século XIX contribuiram
tanto para as teorias do racismo como o Conde Joseph Arthur
de Gobineau (1816 - 1882).A obra que tornou-o lastimosamente
célebre teve como titulo : « Ensaio sobre a desigualdade
das raças humanas » (1). Este livro teve um grande sucesso
junto aos adeptos do nazismo que fizeram do mesmo uma de
suas referências fundamentais. Quais foram as teorias do
conde de Gobineau ? Leiamos para resumir as notas sobre o
ele contidas na edição do Larousse Universel de 1922, eù
seguida Nouveau Larousse Universel de 1948, o pequeno
Larousse de 1980 e enfim Le Petit Larousse Compact de 1999.A
evolução dos termos com os quais o célebre dicionário
resumiu as teorias de Gobineau conheceu ao longo do Século
XX uma evolução subtil. Não pdemos negligenciar tais
variações porque elas são sugnificativas das mudanças
das mentalidades no que diz respeito às complacências mais
ou menos evidentes para com as
teses racistas na França.

Vejamos o que escreveu o Larousse em 1922 a propósito do
Ensaio sobre as desigualdades das raças humanas. « Fundado
na idéia da raça como fator fundamental da história, ele
apresenta o ariano dolicocéfalo louro como o tipo da
humanidade superior. Com esta maneira de ver, Gobineau
favoreceu o orgulho pangermânico, seu sistema sendo,
especialmente, muito apreciado na Alemanha. Ele exerceu uma
grande influência sobre as idéias de Wagner ». A edição
do Nouveau Larousse Universel de 1948 salienta ainda a
grande influência de Gobineau sobre Wagner, concluindo : «
Os alemães interpretaram o sistema dele para tirarem
benefício».

Quase 40 ans depois, o pequeno Larousse passou em silêncio
as influências que recebeu Wagner e concluiu no final que o
Conde de Gobineau «influenciou os teóricos do racismo
germânico ».

Em 1999, contudo, o mesmo Petit Larousse mostrou-se desta
vez mais sutil a propósito do autor e de suas teorias,
escrevendo que o Ensaio sobre as desigualdades das raças
humanas « pretendia retraçar e explicar pelo processo
histórico da miscigenação, a marcha da humanidade para um
declínio inelutável ».Assim, a questão das teorias de
Gobineau sobre as « raças superiores »deixou de ser
mencionada. Outra nuança introduzida pelo Petit Larousse de
1999 em sua conclusão concernando o referido autor
consistiu em dizer que os « teóricos do racismo germânico
reivindicam as teorias do Conde mas « disfarçam as suas
teses ».

Dir-se-ia que o Petit Larousse procurasse atenuar o racismo
inerente às teorias de Gobineau, deixando supor que os
nazistas só utilizaram-nas de maneira disfarçada. Para o o
leitor que tivesse ainda necessidade de se convencer de que
as idéias de Gobineau fossem tão racistas, suas Cartas
brasileiras (2) constituem uma amostra mais do que
convincente.

Joseph Arthur de Gobineau, que era não somente escritor
mas também diplomata, ocupou o cargo de chefe de gabinete
de Alexis de Tocqueville, então Ministro das relações
exteriores da França de Napoleão III (3).Após haver
deixado este cargo afim de ocupar a função de primeiro
secretário de embaixadas em Berna, Hanovre e no Irão,
Gobineau foi enviado para o Brasil em 1869, por uma dessas
astúcias muito frequentes na história. Ele partiu a
contragosto, afim de representar a França perante um dos
povos mais mestiços do planeta.Conhecendo-se o papel
desempenhado pela mestiçagem em suas teorias, consideradas
como fator histórico tendo precipitado a humanidade num
declínio inelutável, este encontro do teórico racista com
o povo de mestiços é muito engraçado. A estadia no Brasil
foi para Gobineau uma grande provação, se considerarmos
seu estado de saúde do início até o fim de sua missão no
Rio. Esta, que durou pouco mais de um ano,
permitiu-lhe escrever numerosas cartas a sua esposa que
ficara na França. Nelas o Conde verteu sem nenhuma censura,
tudo de ruim que ele pensava da «ignominiosa canalha
brasileira. Todos mulatos, todos, todos, menos a família
imperial ! » exclamou numa de suas cartas (4).

Tendo chegado ao Brasil no fin de março de 1869, três
meses depois Gobineau já tinha um julgamento definitivo
sobre o seu povo: «O Brasil só pode tornar-se alguma coisa
se os brasileiros desaparecerem ; trata-se de uma
população inepta, viciada até a moela, pela qual não se
pode fazer nada, que se utilize a força física ou moral »
(5).

Gobineau, por que o povo brasileiro não era conforme à
idéia que ele tinha das raças superiores, procurou
refúgio ao lado do Imperador do Brasil, sua Majestade Dom
Pedro II e de sua Alteza a Imperatriz. E o escritor francês
teve muita sorte porque o Imperador era um homem realmente
excepcional! Ávido de tudo, espírito muito culto e
científico, homem de laboratório, admirador de Linné, Dom
Pedro manteve uma correspondência com Quatrefages durante
vinte anos. O Imperador brasileiro fez parte até dos
benfeitores do Instituto Pasteur de Paris.Ele era também um
grande poliglota, conhecia quatorze línguas e falava oito
ou nove de maneira fluente. Em suma, era um Monarca
esclarecido, o que deveria agradar o Conde, era um branco de
sangue azul, descendente das linhagens mais altas da
aristocracia européia. Porém muito cedo e apesar da
benevolente amizade do imperador por Gobineau (ele o recebia
duas, três vezes por semana no palácio) a saúde
do conde declinou muito depressa : « Você sabia que,
desde minha chegada, tenho sofrido, de maneira contínua, de
febre e de um abatimento insuportável ? Não se passa uma
semana sem que eu me sinta obrigado a deitar-me duas ou tres
vezes durante o dia, »escreveu a um amigo na Europa.Sua
degradação física e moral atingiu um tal ponto que o
próprio Imperador inquietou-se e aconselhou-o a voltar para
a França o mais cedo possivel. E Gobineau findou sendo
repatriado quase em situação de urgência.

Como pudeste imaginar que eu sofresse de nostalgia ou de
algo semelhante ?» perguntou o Conde a sua esposa. « Estou
realmente doente e o Rio vai me matar. Tenho outro coisa a
fazer do que deixar-me assim morrer » (6).

Devemos reconhecer que Gobineau sofreu no Rio de uma
doença semelhante, e muito frequente, que atingia os negros
brasileiros vindos da Africa para trabalhar como escravos.
Ao chegarem ao Brasil, numerosos negros reagiram às
condições desumanas da escravidão com uma melancolia
mortal denominada « banzo ».Este fenômeno alcançou
proporções epidêmicas tais e marcou tanto o espírito dos
brasileiros que a palavra « banzo », de origem africana
,faz parte doravante da língua comum para designar a
melancolia.

Naturalmente, poderiamos dizer que, por razões muito
diferentes, tanto o Conde como os negros africanos padeceram
de melancolia no Brasil, não pelas mesmas razões mas pela
mesma relação com a verdade do sujeito.

O próprio Freud colocou em « Luto e Melancolia » (7) a
questão : porque adoecer para alcançar uma… verdade ?
Que verdade teriam eles alcançado, o Conde e os escravos
africanos, para mergulharem numa melancolia, apenas chegados
ao Brasil ? Sem dúvida as causas não foram as mesmas, mas,
não poderíamos dizer que eles encontraram no Brasil a
verdade do ser-para-a- morte ? Os escravos, assim reduzidos
ao estatuto de simples objets do gozo do Outro, tornaram-se
mortos como sujeitos. Para o Conde, uma revelação poderia
ter-lhe ocorrido: O Brasil prefigurava o mundo futuro onde
não mais existiria um lugar para o Outro da raça pura, a
raça dos Mestres « arianos dolicocéfalos louros».Este
ideal do ego era feroz para os outros mas também para o
próprio Conde. A prova, a mestiçagem brasileira,
verdadeiro exemplo contrário ao sistema social que Gobineau
queria, agia já de maneira sorrateira ao desaparecimento da
ordem injusta de base racial
com a qual ele sonhava.

Gobineau deve ter percebido isto, a sua melancolia tendo
sido o resultado.Aqueles que acreditaram nesse delírio e
quiseram aplicá-lo mais tarde na Europa do Século XX, não
somente se enganaram mas arruinaram os seus países, seus
povos e semearam en toda parte onde passaram o genocídio, a
destruição e a miséria. A miscigenação universal- toda
a evolução do Século XX nos prova- conduz para um mundo
onde o Outro não existe, salvo sob as aparências do único
Mestre Absoluto, a Morte.

1) J. A. de Gobineau, Ensaio sobre as desigualdades das
raças humanas, 1853 - 1855, re-edição, Paris 1967.
2) J. A. de Gobineau,Cartas brasileiras, Éditions du
Delta, Paris, 1969.
3) Ver a propósito das relações de Gobineau com
Tocqueville, os comentários feitos por Jacques-Alain
Miller. Este salienta a ambiguidade de Alexis de Tocqueville
com relação a Arthur de Gobineau : ao mesmo tempo em que o
primeiro considerava o sistema da Desigualdade das raças
como «a tese mais injusta que se pudesse conceber nos dias
atuais » … um « sistema de manobras fraudulosas, uma
filosofia de diretor de haras », Alexis mostrava-se além
de complacente com o Conde Joseph Artur, correndo servir às
ambições de Gobineau no Ministério e na Academia.
Conforme : « Astros obscuros, hidras estreladas »

Enc: Confrontos em Copenhague





Confrontos em Copenhague

Leonardo Boff

Em Copenhague nas discussões sobre as taxas de redução dos gases produtores de mudanças climáticas, duas visões de mundo se confrontam: a da maioria dos que estão fora da Assembléia, vindo de todas as partes do mundo e a dos poucos que estão dentro dela, representando os 192 estados.

Estas visões diferentes são prenhes de conseqüências, significando, no seu termo, a garantia ou a destruição de um futuro comum.

Os que estão dentro, fundamentalmente, reafirmam o sistema atual de produção e de consumo mesmo sabendo que implica sacrificação da natureza e criação de desigualdades sociais.

Crêem que com algumas regulações e controles a máquina pode continuar produzindo crescimento material e ganhos como ocorria antes da crise.

Mas importa denunciar que exatamente este sistema se constitui no principal causador do aquecimento global emitindo 40 bilhões de toneladas anuais de gases poluentes.

Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas.

Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo.

Ocorre que estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana.

Não passa pela cabeça dos representantes dos povos que a alternativa é a troca de modo de produção que implica uma relação de sinergia com a natureza.

Reduzir apenas as emissões de carbono mas mantendo a mesma vontade de pilhagem dos recursos é como se colocássemos um pé no pescoço de alguém e lhe dissésemos: quero sua liberdade mas à condição de continuar com o meu pé em seu pescoço.

Precisamos impugnar a filosofia subjacente a esta cosmovisão.

Ela desconhece os limites da Terra, afirma que o ser humano é essencialmente egoista e que por isso não pode ser mudado e que pode dispor da natureza como quiser, que a competição é natural e que pela seleção natural os fracos são engolidos pelos mais fortes e que o mercado é o regulador de toda a vida econômica e social.

Em contraposição reafirmamos que o ser humano é essencialmente cooperativo porque é um ser social. Mas faz-se egoísta quando rompe com sua própria essência.

Dando centralidade ao egoísmo, como o faz o sistema do capital, torna impossível uma sociedade de rosto humano. Um fato recente o mostra: em 50 anos os pobres receberam de ajuda dois trilhões de dólares enquanto os bancos em um ano receberam 18 trilhões.

Não é a competição que constitui a dinâmica central do universo e da vida mas a cooperação de todos com todos. Depois que se descobriram os genes, as bactérias e os vírus, como principais fatores da evolução, não se pode mais sustentar a seleção natural como se fazia antes.

Esta serviu de base para o darwinismo social. O mercado entregue à sua lógica interna, opõe todos contra todos e assim dilacera o tecido social. Postulamos uma sociedade com mercado mas não de mercado.

A outra visão dos representantes da sociedade civil mundial sustenta: a situação da Terra e da humanidade é tão grave que somente o princípio de cooperação e uma nova relação de sinergia e de respeito para com a natureza nos poderão salvar. Sem isso vamos para o abismo que cavamos.

Essa cooperação não é uma virtude qualquer. É aquela que outrora nos permitiu deixar para trás o mundo animal e inaugurar o mundo humano.

Somos essencialmente seres cooperativos e solidários sem o que nos entredevoramos. Por isso a economia deve dar lugar à ecologia. Ou fazemos esta virada ou Gaia poderá continuar sem nós.

A forma mais imediata de nos salvar é voltar à ética do cuidado, buscando o trabalho sem exploração, a produção sem contaminação, a competência sem arrogância e a solidariedade a partir dos mais fracos.

Este é o grande salto que se impõe neste momento. A partir dele Terra e Humanidade podem entrar num acordo que salvará a ambos.

*Leonardo Boff é teólogo



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