30 maio 2006

FALCÃO, MENINOS DO TRÁFICO


AUTORES: MV BILL E CELSO ATHAYDE

DURAÇÃO: 90 min

Nilo dos Anjos


Percorrendo os guetos e favelas do Brasil, MV Bill e Athayde mostram o que todo mundo já sabia!... A degradação humana mostrada em capítulos no FANTÁTISCO é comentada, no dia seguinte, em todos os cantos do Brasil. Talvez a grande surpresa tenha sido a exibição em horário nobre na Rede Globo.
O documentário foi idealizado ao longo de dez anos, durante as apresentações do Rapper MV Bill, em submundos espalhadas por todo o país. Se não fosse por essa informação, teríamos a impressão de que foi feito hoje mesmo em um mesmo lugar, dado ao fato de que não se percebe uma mudança nem no tempo, nem nas pessoas, a não ser pelo sotaque, único indicador de uma mudança de estado, dando a impressão de que não há diferença entre o submundo daqui e o de lá ou entre o subumano daqui e o de lá. Nas entrevistas, os menores são questionados sobre a vida que levam envolvidos entre a bandidagem e pressionados pela sociedade que os marginaliza. Nesse diálogo, surgem depoimentos marcantes como o caso do menino que gostaria de ser bandido quando crescer e do rapaz que queria conhecer um circo. Temos uma aula de comercialização de drogas, desde a captação até o consumidor. Mas não tem nada de novo, nada que filmes como
CIDADE DE DEUS e o documentário ÔNIBUS 174 já não tenham explorado. Talvez o fato de ser uma obra de ficção, no caso de CIDADE DE DEUS, dê uma impressão de que seja uma visão exagerada do autor, mas pelo que vemos em documentários como esse e o do ÔNIBUS 174, podemos perceber uma realidade ainda mais cruel. Resta saber o que estará por trás dessa exibição histórica em cadeia nacional em horário nobre pela Rede Globo. Daquilo que a emissora faz questão de esconder ou mostrar sob a ótica de um jornalismo comprometido com seus próprios interesses. Através de suas insípidas novelas (salvo raras exceções), que promovem o consumismo, ditam padrões e normas de comportamentos, inspiram a violência e preconceito alienando o espectador com doses diárias de “tranqüilizantes” e “alucinógenos”, fazendo-os acreditar que está tudo bem, quando na verdade a realidade é outra. Será que ela deixou de ser “vapor”?

19 maio 2006

Uma Definição de Felicidade


STEPHEN KANITZ

Todas as profissões têm sua visão do que é felicidade. Já li um economista defini-la como ganhar 20.000 dólares por ano, nem mais nem menos. Para os monges budistas, felicidade é a busca do desapego. Autores de livros de auto-ajuda definem felicidade como "estar bem consigo mesmo", "fazer o que se gosta" ou "ter coragem de sonhar alto". O conceito de felicidade que uso em meu dia-a-dia é difícil de explicar num artigo curto. Eu o aprendi nos livros de Edward De Bono, Mihaly Csikszentmihalyi e de outros nessa linha. A idéia é mais ou menos esta: todos nós temos desejos, ambições e desafios que podem ser definidos como o mundo que você quer abraçar. Ser rico, ser famoso, acabar com a miséria do mundo, casar-se com um príncipe encantado, jogar futebol, e assim por diante. Até aí, tudo bem. Imagine seus desejos como um balão inflável e que você está dentro dele. Você sempre poderá ser mais ou menos ambicioso inflando ou desinflando esse balão enorme que será seu mundo possível. É o mundo que você ainda não sabe dominar. Agora imagine um outro balão inflável dentro do seu mundo possível, e portanto bem menor, que representa a sua base. É o mundo que você já domina, que maneja de olhos fechados, graças aos seus conhecimentos, seu QI emocional e sua experiência. Felicidade nessa analogia seria a distância entre esses dois balões – o balão que você pretende dominar e o que você domina. Se a distância entre os dois for excessiva, você ficará frustrado, ansioso, mal-humorado e estressado. Se a distância for mínima, você ficará tranqüilo, calmo, mas logo entediado e sem espaço para crescer. Ser feliz é achar a distância certa entre o que se tem e o que se quer ter.
O primeiro passo é definir corretamente o tamanho de seu sonho, o tamanho de sua ambição. Essa história de que tudo é possível se você somente almejar alto é pura balela. Todos nós temos limitações e devemos sonhar de acordo com elas. Querer ser presidente da República é um sonho que você pode almejar quando virar governador ou senador, mas não no início de carreira. O segundo passo é saber exatamente seu nível de competências, sem arrogância nem enganos, tão comuns entre os intelectuais. O terceiro é encontrar o ponto de equilíbrio entre esses dois mundos. Saber administrar a distância entre seus desejos e suas competências é o grande segredo da vida. Escolha uma distância nem exagerada demais nem tacanha demais. Se sua ambição não for acompanhada da devida competência, você se frustrará. Esse é o erro de todos os jovens idealistas que querem mudar o mundo com o que aprenderam no primeiro ano de faculdade. Curiosamente, à medida que a distância entre seus sonhos e suas competências diminui pelo seu próprio sucesso, surge frustração, e não felicidade.
Quantos gerentes depois de promovidos sofrem da famosa "fossa do bem-sucedido", tão conhecida por administradores de recursos humanos? Quantos executivos bem-sucedidos são infelizes justamente porque "chegaram lá"? Pessoas pouco ambiciosas que procuram um emprego garantido logo ficam entediadas, estacionadas, frustradas e não terão a prometida felicidade. Essa definição explica por que a felicidade é tão efêmera. Ela é um processo, e não um lugar onde finalmente se faz nada. Fazer nada no paraíso não traz felicidade, apesar de ser o sonho de tantos brasileiros. Felicidade é uma desconfortável tensão entre suas ambições e competências. Se você estiver estressado, tente primeiro esvaziar seu balão de ambições para algo mais realista. Delegue, abra mão de algumas atribuições, diga não. Ou então encha mais seu balão de competências estudando, observando e aprendendo com os outros, todos os dias. Os velhos acham que é um fracasso abrir mão do espaço conquistado. Por isso, recusam ceder poder ou atribuições e acabam infelizes. Reduzir suas ambições à medida que você envelhece não é nenhuma derrota pessoal. Felicidade não é um estado alcançável, um nirvana, mas uma dinâmica contínua. É chegar lá, e não estar lá como muitos erroneamente pensam. Seja ambicioso dentro dos limites, estude e observe sempre, amplie seus sonhos quando puder, reduza suas ambições quando as circunstâncias exigirem. Mantenha sempre uma meta a lcançar em todas as etapas da vida e você será muito feliz.