19 outubro 2006

Lula, apesar de tudo

Por Lula, apesar de tudo

Por Walter Takemoto

Deixei de ser militante do PT já faz alguns anos. Dessa condição, passei para a de eleitor engajado, aquele que escolhe muito bem os seus candidatos, que na véspera das eleições, com a “temperatura” elevada, pega sua camiseta, uma bandeira e um monte de propaganda e vai pra rua disputar os votos dos indecisos. Mesmo longe da militância estudantil, sindical e política que marcou grande parte da minha vida, ainda hoje me considero, sem nenhuma vergonha, socialista, daqueles que de vez em quando ainda acham que um dia irá ocorrer a revolução socialista, a emancipação do proletariado, mesmo que muitos afirmem que o proletariado já não existe mais.

Pois bem, essas ultrapassadas linhas escrevo para dizer que ainda vou votar e disputar na rua votos para o Lula.

E não se trata de votar por saudade do Lula do final da década de 70, pois aquele Lula mandava os peões do sindicato tomar os nossos jornais e nos expulsar das assembléias do sindicato, apenas e tão somente por sermos militantes de organizações de esquerda.

Da mesma forma, não se trata de saudade do Lula do inicio dos anos 90, que montava a estratégia de longo prazo de assumir a hegemonia excludente do PT, por meio da Articulação.

Menos ainda saudade do Lula do final dos anos 90, que com a Articulação estruturou um partido que em nada mais se assemelhava ao PT que empolgou operários, militantes dos movimentos sociais, das organizações de esquerda, estudantes, profissionais liberais, intelectuais e todos aqueles que alimentavam o sonho de uma sociedade socialista, e que trocaram suas células por núcleos de bairro, vilas, fábricas e escolas, dedicando tempo e energia para construir um partido de massa de verdade. O PT do final dos anos 90 passou a ser o PT dos assessores, dos cargos comissionados, dos dirigentes profissionalizados, e dos especialistas das sombras. Passou a ser o PT que deixou de ter um programa socialista para o Brasil, para ser o PT do projeto estratégico de um determinado grupo, que estruturou a máquina do partido e das administrações conquistadas para a concretização desse projeto.

Mas então, onde é que está a motivação para votar no Lula em 2006?

O motivo que me leva votar de novo, e mais uma vez no Lula, é a esperança!

A esperança de que o Lula, por fim, assuma a Presidência e nesses quatro anos cumpra uma única promessa: a de que a esperança vencerá, de verdade, o medo!

E dessa vez estamos vendo os mais pobres, os excluídos, os que sempre estiveram fora da história oficial do nosso país, votando em um presidente operário, rompendo com a elite, as oligarquias e buscando alguma forma de se inserir no jogo político.

Estamos vendo, também, muitos jovens e adolescentes de hoje, que não viveram a ditadura e muito menos o processo de retomada das lutas democráticas e sociais e de fundação do PT, que se empolgam com o Lula e assumem a sua defesa com as poucas armas que possuem.

Construir as condições efetivas para transformar os excluídos, os adolescentes e jovens que hoje estão votando no Lula em protagonistas e não apenas em eleitores, é de fato derrotar o medo e dar uma chance para que a esperança se transforme em futuro.

A maior derrota para o Lula, portanto para todos que ainda alimentam o sonho de uma sociedade democrática, mais justa e igualitária, não é a derrota eleitoral em 2006 - como não foram as anteriores - mas a derrota política de todos os milhões de brasileiros e brasileiras que se mobilizaram para lhe dar a vitória parcial no primeiro turno. Esses milhões votaram no Lula apesar da campanha monstruosa dos meios de comunicação, do discurso moralista hipócrita de muitos - inclusive de uma candidata – e de petistas que assumiram a máxima do vale tudo para manter o poder e o privilégio, e se transformaram em militantes de quadrilha.

E no rastro da vitória do Lula, o povo nordestino impôs às oligarquias derrotas inesperadas na Bahia – retumbante – e no Maranhão, que pode se concretizar no segundo turno, além das vitórias no Ceará, Sergipe, Piauí e a se confirmar, também no segundo turno, em Pernambuco. E o Lula ainda venceu em Minas, no Rio e Espírito Santo. Não se trata da divisão do país entre ricos e pobres, ou norte e sul. Trata-se do resultado das políticas implementadas pelo Governo Federal. Enquanto que os pobres e excluídos votaram no Lula, legitimando as políticas inclusivas implementadas, a classe média e a elite, beneficiada tanto ou mais, quando pode escolher, sempre irá optar por um igual, jamais por um “estranho”. E o Alckmin é um igual, faz parte da elite que domina o Brasil desde sempre.

Por tudo isso, e muito mais que se pode argumentar, escrever e debater, é que meu voto é Lula, é um voto na esperança de que ele assuma a Presidência e cumpra esse compromisso: transformar o voto e a esperança de milhões em protagonismo político e social - diferente do caudilhismo que alguns até gostariam de ver por aqui – que seja um processo que faça com que o futuro esteja logo ali, mesmo que não seja aquele pelo qual nós lutamos um dia, mas que seja o que faça todos nós afirmarmos a nossa identidade de homens e mulheres livres e felizes, pois fomos capazes de dar um basta as formas mais sutis e perversas de dominação, de todos os tipos, à esquerda e à direita!

Abraços e que dia 30 seja um dia mais feliz, no Maranhão, em Pernambuco, no Pará e em todo o Brasil!

Walter Takemoto e educador.