04 setembro 2006

Anjos do Sol


Inspirado em diversos artigos publicados na imprensa, o filme fala sobre o mundo da prostituição infantil no Brasil por meio da história de Maria (Fernanda Carvalho), uma menina de 12 anos vendida pelos pais. Ela cruza o Brasil numa longa jornada, forçada a se prostituir para sobreviver, enquanto busca um futuro melhor.
Gênero:
Drama
Tempo:
92 min.
Lançamento:
18 de Ago, 2006
Classificação:
14 anos
Distribuidora:
Downtown Filmes

Anjos do Sol
Angélica Bito
Além de proporcionar entretenimento, o cinema também tem um papel social. Mas, ao abraçar uma causa, é muito fácil seguir um caminho panfletário de uma maneira chata. Anjos do Sol, estréia do cineasta gaúcho Rudi Lagemann na direção de um longa-metragem, passa longe desses dois adjetivos citados, mesmo estando entro do gênero “drama social”. De uma forma tocante, o drama da menina de 11 anos explorada sexualmente é capaz de envolver o espectador de forma a provocar não somente repulsa por toda a situação, mas também a compaixão, levando o espectador a pensar sobre esse cenário nefasto dentro da sociedade brasileira. Afinal, é sempre bom lembrar que, apesar de Anjos do Sol ser uma história de ficção, é baseado em acontecimentos reais, devidamente relatados na imprensa ou por ONGs (Organizações Não-Governamentais), principais fontes de pesquisa para este roteiro.Anjos do Sol acompanha a trajetória de Maria (a estreante Fernanda Carvalho). Como milhões de garotas brasileiras, ela nasce numa família pobre que vive no interior da Bahia. “Alvo” fácil para Tadeu (Chico Diaz), que trabalha “selecionando” garotas com pouco mais de 10 anos para trabalhar longe de suas famílias. Por algumas dezenas de reais – verdadeiras fortunas para famílias como as de Maria -, elas são afastadas do lar para trabalhar na indústria da prostituição. A nossa protagonista é uma delas. Ao lado de outras garotas com história semelhante à sua – como a durona Inês (Bianca Comparato, surpreendente) –, ela vai parar na minúscula cidade de Diamantina, no Amazonas, onde é recebida por Saraiva (Antonio Calloni, possivelmente na melhor performance de sua carreira). Dono de uma “casa de tolerância” com “profissionais” tão jovens quanto Maria, ele comanda suas vidas e as ameaça constantemente, submetendo-as a até 30 programas em uma noite. Lá, a protagonista amadurece na marra, de uma forma sofrida.Anjos do Sol é, sem dúvidas, um filme triste e pesado. Mas o que mais entristece o espectador não é a história de Maria, em si, mas sim pensar que não se trata de absurdos. A prostituição infantil existe e está mais perto do que imaginamos. São muitas as Marias no Brasil e não estamos nem perto de transformá-las em meninas que crescem com oportunidades na vida. Anjos do Sol é um retrato fiel dessa sociedade cruel na qual vivemos. Sem apontar culpados, ou mesmo descrever essa tragédia de uma forma maniqueísta, a produção faz pensar.Além do roteiro, extremamente realista, é necessário apontar a direção precisa de Rudi Lagemann. Apesar de assinar a direção de um longa-metragem pela primeira vez, o gaúcho mostra que não é inexperiente, muito menos está em sua função. A escolha do elenco não poderia ser mais acertada: desde os atores mais veteranos até os menos experientes, todos fazem um trabalho que passa longe do caricatural ou do drama exagerado que o tema pode pedir.Sensível, contundente e real, Anjos do Sol mostra não somente a miséria social, mas, principalmente, a humana, tornando-se uma das melhores produções brasileiras deste ano.