17 julho 2006

Superman


Não superou as expectativas ! Um filme morno sem empolgação, monótono, cheio de clichês. O ator que interpretou o super (Brandon Routh) até que se empenhou bem em tentar imitar Christopher Reever, mas ficou só na imitação, talvez fosse mais interessante se tivesse criado a sua própria maneira. A computação gráfica que invade os filmes de ação e ficção quando exagerada tira um pouco da emoção, quando se percebe o truque a frustração é inevitável. Senti falta de uma estória que mesmo que não desse continuação ( acho que nem seria o caso) aos anteriores, empolgasse pelas surpresas. Um roteiro inexistente só não faz afundar de vez com o filme pois conta com a presença impecável de Kevin Spacey que não deixa nada a dever ao grande Gene Hackman na interpretação de Lex Luthor. Está mais que provado que evolução tecnológica não é garantia de um bom filme. Sinceramente, uma coisa eu posso dizer, pela primeira vez, ao ver um filme de super herói, eu desejei não possuir tais poderes. É um tormento!! Seria cansativo e tedioso ter que me preocupar com tudo e com todos , bancando o herói 24 horas por dia, vivendo a vida dos outros, salvando de desastres, roubos, assassinatos, maremotos, terremotos, etc, e ainda recebendo crítica de alguém que se sentiu injustiçado por eu ter demorado, ora francamente !!! Talvez a maior fraqueza do supreman seja seu próprio ego, ou por qual motivo uma pessoa sairia por aí querendo convencer a todos do que se é capaz. Como diria Raul Seixas: Ei Jesus Cristo! Sabe o que você faz ? Deixa o pai de lado e foge pra morrer em paz!


Nilo do Anjos

A Copa de Zidane


no mínimo volta à primeira página Marcos Caetano



Eu não vinha gostando da Copa de 2006. Não por causa do tombo da nossa seleção, numa derrota que causou mais raiva do que tristeza. O que estava me deixando frustrado na mais recente edição do maior evento esportivo do planeta era a ausência do fator humano. Nenhum craque de verdade havia brilhado na competição e os esquemas táticos conservadores vinham ofuscando o brilho dos jogadores, de forma que a defesa da Itália – assim, sem nomes, no sentido coletivo – obtinha mais destaque do que qualquer atleta.

Foi quando a cabeçada de Zidane em Materazzi recolocou as coisas em seus devidos lugares. Em mim, pelo menos, aquela cabeçada teve o mesmo impacto que no peito do zagueiro italiano. “A dor não pode mais do que a surpresa” – escreveu Guimarães Rosa. A dor de ver Zidane abrindo mão de um fecho glorioso para a sua carreira só não foi maior do que a minha surpresa ao acompanhar seu gesto final. O ato de Zidane relembrou-me que o futebol, felizmente, é praticado por indivíduos, sempre sujeitos a falhas e destemperos. Conforme o final da prorrogação se aproximava, o mundo pressentia o desfecho épico para uma Copa carente de brilho individual. Tal desfecho seria a consagração de Zidane, que marcaria o gol da vitória, daria um passe para o gol do campeonato ou levaria sua equipe ao título na disputa de pênaltis. Mesmo se perdesse nos pênaltis, o craque francês já teria assegurado seu papel de grande herói. Só que Zidane não quis entrar para a história como personagem épico – mas como um personagem trágico.

Eu não consigo me lembrar de outro mito do esporte que, a instantes da glória, tenha jogado tudo fora para fazer valer os seus princípios ou a sua honra. Muitos poderão dizer, com razão, que faltou esperteza ao francês. Poderão alegar, com razão, que Pelé deve ter colecionado milhares de xingamentos racistas, sem jamais ter posto em risco sua carreira por conta de um revide fora de hora. Só que Pelé era Pelé, a quase-perfeição em forma de atleta, enquanto Zidane... Bem, Zidane é antes de mais nada Zinedine – ou simplesmente Zizou –, filho de imigrantes argelinos de Marselha, que teve que lutar a vida inteira para ser respeitado numa França marcada por preconceitos de raça e religião.

Nos instantes em que ouviu Materazzi construir de forma ardilosa, palavra por palavra, sua provocação insidiosa, ofendendo, dizem, a mãe, as filhas do craque e talvez até Alá, o homem Zidane, com um ombro estropiado e fisicamente exaurido após 109 minutos da partida que seria a última antes de sua aposentadoria, perdeu a batalha íntima para o menino Zizou. Não. Nem mesmo numa final de Copa do Mundo Zizou permitiria que alguém xingasse seus familiares ou rebaixasse seu Deus. Poderia ter quebrado a perna do ofensor, mas isso denotaria deslealdade. Poderia ter esbofeteado o infame, mas preferiu não sujar as mãos. Como um touro fustigado antes da última faena, Zidane preferiu a cabeçada. E foi assim que o grande craque se despediu dos gramados não com uma taça nas mãos, mas com um cartão vermelho brandido frente a seu rosto.

Zidane salvou a Copa do Mundo porque devolveu à competição sua dimensão humana. Porque nada, absolutamente nada é mais extraordinário do que o ser humano, em seu patético esplendor. Ele salvou do limbo uma Copa triste – e eu o respeito por isso. Mandou às favas contratos milionários de publicidade, assessores de imprensa, conselhos de marqueteiros e todas essas coisas que vêm tirando a graça do futebol para mostrar-se exatamente como é: com erros e acertos; sem juízo, mas com sangue nas veias. Só ficarei decepcionado se um dia ele se confessar arrependido pelo que fez. Que o craque da Copa jamais faça as pazes com o mundo, para poder continuar em paz consigo mesmo. Que Zidane e o menino Zizou permaneçam fiéis um ao outro – e assim vivam felizes para sempre.