16 maio 2008

Impressões sobre o filme Crash - No limite


O Filme narra a trajetória de pessoas, aparentemente sem ligação nenhuma, que dada às vicissitudes do dia a dia, demonstram sua intolerância, medo, raiva e prepotência, que levam através desta ação, a reações violentas de indignação provocadas pelo desamparo, impotência, insegurança e também medo, destas que por se sentirem desrespeitadas, não encontram alternativa senão a de revidarem da mesma forma. Ou seja, crias-se um círculo vicioso de violência. As minhas ações e atitudes têm ligação direta e indireta com as ações e atitudes do outro.
Mas em meio a isto, havia uma família, que embora também sofressem as mesmas violências, não pareciam reagir a isto de forma violenta. Como se o diretor quisesse dizer “ vejam, é possível fazer diferente”. Mas a capa protetora dada a filha ao completar 5 anos, que protegia o pai até então, não o protegia apenas das “balas perdidas” da vida, mas da violência cotidiana. Parecia, com isso, fazê-lo reagir às agressões sofridas de uma forma mais equilibrada, já que absorvia os efeitos impactantes das injustiças e preconceitos raciais. Como no caso em que ele estava trocando a fechadura da porta da casa da mulher que acabara de ser assaltada ou na hora em que estava consertando a fechadura da loja da família persa. Sim, ele pode ter agido certo, ficou em silêncio em uma situação e não cobrou pelos serviços prestados em outra. Mas isso não o protegeu de uma ação extremada do dono da loja que transtornado pelo roubo de sua loja e depois de constatar que não seria indenizado pelo seguro, resolveu, num ato insano, que o chaveiro deveria pagar por tudo o que até ali havia sofrido. Descarregou toda a sua indignação, raiva e impotência, naquele que para ele era o culpado por ter sido roubado, mas muito além, seria o bode expiatório, seria aquele que pagaria por todos aqueles que o insultavam.
A capa era também a metáfora da indiferença da entorpecência, da couraça que se forma em torno de nós para nos proteger destes ataques diários e nos transforma em pessoas presas e voltadas para dentro de si completamente anestesiadas. No início do filme a voz do ator chama atenção para essa indiferença, para esta entorpecência, numa cidade em que as pessoas se esbarram buscando algum contato numa tentativa de busca de alguma compreensão, de carinho, de troca, de atenção, de amor, de solidariedade. E termina com um carro em chamas, o mesmo carro que a pouco havia sido palco de um assassinato, era agora servido de fogueira para aquecer aos necessitados de calor, que estavam ali naquele momento sob frio da neve que começava a cair. Mas não era apenas o calor físico que buscavam, o carro era também a metáfora para a falta de calor humano, era a metáfora da redenção. Parecia nos dizer que era tempo de mudança, que não podemos mais agir dessa maneira, é tempo de nos redimirmos e de derreter a neve da intolerância, da violência e do racismo que cai sobre nós.

O filme narra de forma extremada, mas bastante verossímil, uma cadeia de acontecimentos que pode parecer fantasioso e pessimista, mas que infelizmente faz parte do nosso cotidiano. Ele é ambientado em Los Angelis nos EUA, mas poderia estar situado em qualquer lugar do mundo, dada a sua abrangência comum, ou seja, a falta de solidariedade vivida por todos nós diariamente e a forma como somos intolerantes com nossas próprias fraquezas. Se compreendêssemos mais os nossos próprios limites e nossas fraquezas, compreenderíamos os limites e as fraquezas dos outros e seríamos mais tolerantes conosco e com o próximo. A redenção pode começar a partir dessa atitude, nada simples, mas esperançosa.

por Nilo dos Anjos
16 de maio de 2008

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