26 novembro 2008

YIN YANG










Segundo a filosofia chinesa o yin yang é a representação do bem e do mal, sendo o princípio da dualidade, onde o bem não vive sem o mal e vice e versa. O criador desse conceito foi I Ching, ele descobriu que as formas de energias existentes possuem dois pólos e identificou-o como Yin e Yang. O Yin representa a escuridão, o princípio passivo, feminino, frio e noturno. Já o Yang representa a luz, o princípio ativo, masculino, quente e claro. Além disso, também são indicados como o Tigre e o Dragão, representando lados opostos. Quanto mais Yin você possuir, menos Yang terá e, quanto mais Yang possuir menos Yin você terá. Essa filosofia diz que para termos corpo e mente saudável é preciso estar em equilíbrio entre o Yin e o Yang. Há sete leis e doze teoremas da combinação das energias Yin e Yang: As leis são;



1. Todo o universo é constituído de diferentes manifestações da unidade infinita;
2. Tudo se encontra em constantes transformações;
3. Todas as contrariedades são complementares;
4. Não há duas coisas absolutamente iguais;
5. Tudo possui frente e verso;
6. A frente e o verso são proporcionalmente do mesmo tamanho;
7. Tudo tem um começo e um fim.


Os teoremas são;
1. Yin e Yang são duas extremidades de pura expansão infinita: ambas se apresentam no momento em que a expansão atinge o ponto geométrico da separação, ou seja, quando a energia se divide em dois;
2. Yin e Yang originam-se continuamente da pura expansão infinita;
3. Yang tende a se afastar do centro; Yin tende a ir para o centro; E ambos produzem energia;
4. Yin atrai Yang e Yang atrai Yin; Yin repele Yin e Yang repele Yang;
5. Quando potencializados, Yin gera o Yang e Yang gera o Yin;
6. A força de repulsão e atração de todas as coisas é proporcional à diferença entre os seus componentes Yin e Yang;
7. Todos os fenômenos têm por origem a combinação entre Yin e Yang em várias proporções;
8. Os fenômenos são passageiros por causa das constantes oscilações das agregações dos componentes Yin e Yang;
9. Tudo tem polaridade;
10. Não há nada neutro;
11. Grande Yin atrai pequeno Yin; o grande Yang atrai o pequeno Yang;
12. Todas as solidificações físicas são Yin no centro e Yang na periferia.

17 novembro 2008

"Un poquito" de São Paulo ... por Washington Olivetto











SÃO PAULO
por Washington Olivetto
Alguns dos meus queridos amigos cariocas têm mania de achar
São Paulo
parecida com Nova York.
Discordo deles.


Só acha São Paulo parecida com Nova York
quem não conhece bem a cidade.
Ou melhor, quem a conhece superficialmente e imagina que
São Paulo seja apenas uma imensa Rua Oscar Freire.
Na verdade, o grande fascínio de São Paulo é parecer-se com
muitas cidades ao mesmo tempo e,
por isso mesmo, não se parecer com nenhuma.
São Paulo, entre muitas outras parecenças, se parece com
Paris no Largo do Arouche, Salvador na
Estação do Brás, Tóquio na Liberdade, Roma ao lado do
Teatro Municipal, Munique em Santo Amaro,
Lisboa no Pari, com o Soho londrino na Vila Madalena e com a
pernambucana Olinda na Freguesia do Ó.


São Paulo é um somatório de qualidades e defeitos, alegrias
e tristezas, festejos e tragédias. Tem hotéis de luxo,
como o Fasano, o Emiliano e o L'Hotel, mas também tem
gente dormindo embaixo das pontes.
Tem o deslumbrante
pôr-do-sol do Alto de Pinheiros e a exuberante vegetação da
Cantareira, mas também tem o ar mais poluído do país.
Promove shows dos Rolling Stones e do U2, mas também
promove acidentes como o da cratera do metrô
e o do avião da TAM em Congonhas.


São Paulo é sempre surpreendente. Um grupo de meia
dúzia de paulistanos significa um italiano, um japonês,
um baiano, um chinês, um curitibano e um alemão.
São Paulo é realmente curiosa. Por exemplo: têm
diversos grandes times de futebol, sendo que um deles
leva o nome da própria cidade e recebeu o apelido 'o mais querido'.
Mas, na verdade, o maior e o mais
querido é o Corinthians, que tem nome inglês, fica perto
da Portuguesa e foi fundado por italianos,
igualzinho ao seu inimigo de estimação, o Palmeiras.
São Paulo nasceu dos santos padres jesuítas, em 1554, mas chegou a
2007 tendo como celebridade o permissivo
Oscar Maroni, do afamado Bahamas.



São Paulo já foi chamada de 'o túmulo do samba'
por Vinicius de Moraes, coisa que Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini
e Germano Mathias provaram não ser verdade, e, apesar da
deselegância discreta de suas meninas, corretamente
constatada por Caetano Veloso, produziu chiques, como
Dener Pamplona Abreu e Gloria Kalil.




Em São Paulo se faz pizzas melhores que as de Nápoles,
sushis melhores que os de Tóquio, lagareiras melhores
que as de Lisboa e pastéis de feira melhores que os de Paris,
até porque em Paris não existem pastéis,
muito menos os de feira.


Em alguns momentos, São Paulo se acha o
máximo, em outros um horror.
Nenhum lugar do planeta é tão maniqueísta.




São Paulo teve o bom senso de imitar os botequins
cariocas, e agora são os cariocas que andam imitando
as suas imitações paulistanas.



São Paulo teve o mau senso de ser a primeira cidade
brasileira a importar a CowParade, uma colonizada e
pavorosa manifestação de subarte urbana, e agora o
Rio faz o mesmo.




São Paulo se poluiu visualmente com a CowParade,
mas se despoluiu com o Projeto Cidade Limpa.
Agora tem de começar urgentemente a despoluir o Tietê
para valer, coisa que os ingleses já provaram ser
perfeitamente possível com o Tâmisa.



Mesmo despoluindo o Tietê, mantendo a cidade limpa,
purificando o ar, organizando o mobiliário urbano,
regulamentando os projetos arquitetônicos, diminuindo as invasões
sonoras e melhorando o tráfego,


São Paulo jamais será uma cidade belíssima.
Porque a beleza de São Paulo não é fruto da mamãe
natureza, é fruto do trabalho do homem.
Reside, principalmente, nas inúmeras oportunidades que
a cidade oferece, no clima de excitação permanente,
na mescla de raças e classes sociais.
São Paulo é a cidade em que a democratização da beleza,
fenômeno gerado pela miscigenação, melhor se
manifesta.




São Paulo é uma cidade em que o corpo e as mãos do
homem trabalharam direitinho, coisa que se reconhece
observando as meninas que circulam pelas ruas.
E se confirma analisando obras como o Pátio do Colégio
(local de fundação da cidade), a Estação da Luz
(onde hoje fica o Museu da Língua Portuguesa),
o Mosteiro de São Bento, a Oca, no Parque do Ibirapuera,
o Terraço Itália, a Avenida Paulista, o Sesc Pompéia,
o palacete Vila Penteado, o Masp, o Memorial da América
Latina, a Santa Casa de Misericórdia, a
Pinacoteca e mais uma infinidade de
lugares desta cidade que não
pode parar, até porque tem mais carros
do que estacionamentos.


São Paulo não é geograficamente linda, não tem
mares azuis, areias brancas nem
montanhas recortadas.
Nossa surfista mais famosa é a Bruna, e
nossos alpinistas, na maioria, são sociais.
Mas, mesmo se levarmos o julgamento para o
quesito das belezas naturais, São Paulo se dá mundialmente
muito bem por uma razão tecnicamente comprovada.
Entre as maiores cidades do mundo, como
Tóquio, Nova York e Cidade do México, em matéria de
proximidade da beleza, São Paulo é, disparado, a melhor.
Porque é a única que fica a apenas 45 minutos de vôo do Rio de Janeiro.
O mais importante é que com essa
distância nenhuma bala perdida pode alcançar São Paulo!



(Washington Olivetto é paulista, paulistano e publicitário).
(Nilo dos Anjos é carioca, fluminense, mora em Olinda-PE e brasileiro acima de tudo.)

07 novembro 2008

O DISCURSO RACISTA NA TV



O DISCURSO RACISTA NA TV:
UMA ANÁLISE DA PROPAGANDA DA CERVEJA SOL
Lise Mary Arruda Dourado
Especialista em Metodologia do Ensino Superior
Professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Nós não queremos papéis de negros, queremos
papéis de brasileiros empregados, empresários, dentistas,
médicos, advogados. (ARAÚJO apud RAMOS, 2002)
1
Resumo: O presente artigo tem por objetivo investigar as condições de produção do
discurso veiculado por uma propaganda da cerveja Sol e de que modo busca
contribuir para a manutenção de uma concepção étnica que insiste em manter o
negro em uma posição marginal. Visto que a propaganda constitui importante
produto cultural, tanto pela regularidade com que é exibida nos intervalos entre
programações, quanto por mobilizar determinados universos de referência e, com
isso, impor modelos coletivos de representações e comportamento. O corpus do
trabalho constitui-se na propaganda da cerveja Sol, veiculada em rede nacional, no
verão de 2007. A análise, que busca desvelar a maneira como a memória discursiva
do sujeito-telespectador brasileiro é acionada à produção de sentidos, é realizada à
luz dos dispositivos da Análise do Discurso de Linha Francesa (PÊCHEUX, 1990;
ORLANDI, 2003) além de utilizar alguns verbetes de Charaudeau e Maingueneau
(2004). As reflexões acerca dessa análise contribuem para descortinar o véu
ideológico do branqueamento presente na propaganda em questão, cujo título é
Bronzeador.
Palavras-chave: Condições de produção; Discurso racista; Propaganda televisiva.
INTRODUÇÃO
O universo midiático exerce na pós-modernidade um papel fundamental
na circulação de sentidos, cujos valores simbólicos influenciam cultural e
socialmente na constituição dos sujeitos. Para esse fim, a televisão, considerada um
dos veículos de comunicação mais populares, lança mão de diversos mecanismos e
estratégias que envolvem aspectos verbais, visuais e sonoros. O poder, que lhe foi
delegado por tais aspectos, gerou uma ambivalência de opiniões a seu respeito:
[...] ora afirmam ser a televisão um instrumento de estímulo e
incentivo à produção da violência, que informa pouco e mal, ‘destrói
mais saber e mais entender do que transmite’, ‘está mudando a
natureza do ser humano’ (SARTORI, 2001, p. 8-9); que emburrece,
aliena, hipnotiza, vicia e transmite ao vivo imagens de guerra como
1
Joel Zito Araújo é Doutor em Comunicação, professor visitante da Universidade do Texas, cineasta e diretor.
Page 2
‘espetáculo excitante’ (KEHL, 1991, p. 60); que os produtos
disponibilizados pelas agências de notícias são vinculados, ‘quase
sempre, a interesses políticos e econômicos, divulgando, ignorando
ou distorcendo o que lhes interessa ou parece conveniente’
(FREIRE, 1999, p. 19). Ora apontam-na como dispositivo audiovisual
através do qual uma civilização pode exprimir a seus
contemporâneos os seus anseios e dúvidas, as suas crenças e
descrenças, as suas inquietações, as suas descobertas e os vôos de
imaginação (MACHADO, 2000, p. 11). (TASSO apud NAVARRO,
2006, p.131)
Entre as tipologias do gênero midiático televisivo, a propaganda constitui
importante produto cultural, tanto por nos emocionar, chocar, divertir ou atrair,
quanto pela regularidade com que é exibida nos intervalos entre programações, o
que aumenta o seu poder de persuasão. Há muito, a publicidade não se limita à
divulgação dos aspectos funcionais e dos benefícios do produto ou serviço
anunciado. Ao reconstituir cenas cotidianas da vida e mobilizar determinados
universos de referência, em detrimento de outros, a propaganda também propõe
modelos coletivos de comportamento - podendo cristalizar estereótipos – e, dessa
forma, assume uma poderosa influência cultural. Bem ou mal, um “papel social” é
cumprido, pois a propaganda espelha e serve de referência para a construção de
identidades:
[...] a televisão se inscreve numa seqüência temporal breve, que se
impõe à instância que olha, orientando-a em seu olhar sobre os
dramas do mundo. Assim, pode-se dizer que a televisão cumpre um
papel social e psíquico de reconhecimento de si através de um
mundo que se fez visível
2
(CHARAUDEAU, 2006. p. 112, 112).
Lançar-se-á um olhar étnico sobre a propaganda da cerveja Sol, a fim de
investigar se, na contribuição desta publicidade para a construção da identidade
negra, há indícios de um discurso racista. Para tanto, prioriza-se a discussão sobre
as condições de produção, lançando mão dos pressupostos teóricos da Análise do
Discurso de linha francesa. Para esta,
As condições de produção do discurso irão determinar não o sentido
em si, mas as posições ideológicas do jogo discursivo. Podemos
considerar as condições de produção em sentido estrito e temos as
circunstâncias da enunciação: é o contexto imediato. E se as
considerarmos em sentido amplo, as condições de produção incluem
o contexto sócio-histórico, ideológico. (ORLANDI, 2000, p. 46).
O recorte proposto para este trabalho pretende analisar até que ponto a
publicidade assume o papel de instrumento de dominação, visto que, segundo
Munanga (1996, p. 80) “[...] os preconceitos raciais são considerados como atitudes
2
Essa semiotização do real pela imagem, em que cada um se projeta no que aparece como um reflexo de seu
ambiente, é constitutiva do sujeito. (BELISLE apud CHARAUDEAU, 2006. p. 112).
Page 3
sociais propagadas pela classe dominante, visando à divisão dos membros da
classe dominada, para legitimar a exploração e garantir a dominação.”
É indispensável verificar, na associação dos elementos audiovisuais, a
presença do elemento ideológico, já que, para se constituir sujeito, o indivíduo é
interpelado pela história e pela ideologia (ORLANDI, 2003, p. 46). Essa interpelação
acontece quando o indivíduo sofre interferências da história no sentido de se
inscrever em um discurso já existente. E essa inscrição não é aleatória, pois há um
processo de identificação do sujeito com o discurso predominante. Desse modo,
cabem alguns questionamentos: a) Há manipulação do sujeito-telespectador a
desvalorizar a raça negra? b) Até que ponto a ideologia do embraquecimento pode
estar materializada no discurso dessa propaganda? A fim de responder a essas
questões, serão considerados princípios teóricos do funcionamento discursivo na
mídia televisiva, articulados aos conceitos de racismo e embraquecimento.
Considera-se racismo como a manifestação do preconceito e da
discriminação que permeiam as relações de raças em uma sociedade (MUNANGA,
1996, p. 76). O preconceito revela-se no dia-a-dia, nas situações mais simples, em
uma sociedade na qual as pessoas desenvolvem um mundo simbólico em que as
características fenotípicas acabam operando como referências para esse
preconceito. À proporção que a mídia enaltece as características fenotípicas de uma
raça em detrimento da outra, colabora para o enfraquecimento da segunda. Em
outras palavras, há uma introjeção da idéia da superioridade racial, o que colabora
para a sedimentação do embranquecimento, que vem a ser a negação da negritude
(FERREIRA, 2000, p. 70).
1 ANÁLISE DO TEXTO PUBLICITÁRIO
No tópico anterior, foram considerados princípios teóricos sobre o
funcionamento discursivo na mídia televisiva, articulando com os do discurso racista;
priorizou-se estabelecer relações existentes entre história
3
, memória
4
e condições de
produção na produção de sentidos relativos ao discurso racista. A seguir, por meio
dos dispositivos teóricos disponíveis, analisa-se a propaganda da cerveja Sol,
veiculada no verão de 2007 e intitulada Bronzeador. Pela análise a ser apresentada,
busca-se demonstrar quais mecanismos e estratégias foram utilizados nessa
materialidade midiática que possibilitaram a produção de determinados sentidos em
detrimento de outros. Pretende-se, em síntese, esboçar o que, o como e o porquê a
propaganda parece dizer o que diz. Inicia-se, então, a análise do texto publicitário,
apresentando o jingle
5
que acompanha a exibição do vídeo:
(P1): Tava no escritório com um baita de um calor...
(CM): Sol!
3
A produção de acontecimentos que significam. (ORLANDI, 2003, p. 31)
4
O saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré-construído, o já dito que está
na base do dizível, sustentando cada tomada da palavra. (ORLANDI, 2003, p.31)
5
Canção especialmente composta e criada para a propaganda de determinada marca. Forma de música
geralmente simples e cativante, fácil de cantarolar e recordar. (RABAÇA e BARBOSA, 1998, p. 134)
Page 4
(CM): Vamo aí, que’o verão já começou!
(P1): Mas verão sem mulherada, não é verão, é um terror!
(CM): Sol!
(CM): Vamo aí, que’o verão já começou!
(P1): Agora, o lance é achar o vendedor...
(P2): Ó a Sol, nem forte, nem fraca, no ponto!
(CM): Vamo aí, que o verão já começou!
(P3): Peraí! Quem vai passar o bronzeador?
(CM): Eeeeeeu!
(P4): E o verão tá bombando. Vamo aí?
(VM): Beba com moderação.
A enunciação é realizada por quatro personagens distintas (P1, P2, P3,
P4), um grupo de personagens masculinas que compõem um coro (CM: coro
masculino) e um enunciador masculino não identificado (VM: voz masculina). Para o
desenvolvimento da análise, subdividiu-se o vídeo, exibido em 30 segundos, em 3
partes, constituídas de 32 cenas: a primeira parte, formada pela seqüência de cenas
1 a 5, corresponde ao espaço de uma metrópole; a segunda, pela seqüência de 6 a
12, equivale ao espaço da estrada; a terceira, pela seqüência de cenas 13 a 32, ao
espaço da praia. Esse jingle apresenta-se em cadência acelerada, jovial. A fim de
considerar apenas o indispensável à discussão deste trabalho, a análise da
propaganda encerra-se na cena da terceira parte em que a personagem masculina
negra (P2) surge como enunciador, recebendo destaque no texto fílmico. De
maneira enxuta, tornou-se possível demonstrar como os principais elementos verbo-
visuais se articulam com os sonoros
6
, produzindo efeitos de sentido singulares na
propaganda, bem como a seqüência narrativa que dela faz parte. Note-se a
seqüência:
Na parte 1, um homem jovem (P1), aparentando ter faixa etária entre 18 a 25 anos
aproximadamente, de fenótipo branco, vestido com camisa de manga comprida branca e gravata
amarela, encontra-se em um ambiente de cor acinzentada. Além da ambientalização e do seu traje
indicarem que se trata de um local de trabalho, no jingle, P1 canta “Tava no escritório” e folga a
gravata. P1 sugere ao sujeito-telespectador que o ambiente está quente. Apesar do traje social, a
gravata amarela e o cabelo desalinhado de P1 são indícios da irreverência dessa personagem.
Na seqüência, P1, ainda folgando a gravata, aparece enquadrado pela câmera na janela
do escritório. Como a janela está aberta, o sujeito-telespectador pode deduzir que naquele ambiente
faz muito calor.
P1 confirma tal efeito de sentido, pois canta “... com um baita de um
calor!”. O vocábulo “baita” sugere fuga da variedade lingüística padrão, o que
contribui para a produção do sentido de informalidade de P1 e, por conseguinte, do
próprio produto. Assim, a cerveja Sol é um produto que deve ser consumindo
independente da circunstância ou do consumidor.
P1 destaca-se pelo contraste das cores branca e amarela com o seu
ambiente de trabalho de cores escuras e frias. Uma breve análise semiótica permite
perceber que estas cores simbolizam o líquido, sendo este personificado na figura
6
O conjunto de sons quer sejam eles verbais (falados ou cantados) ou não, ruídos ou oriundos de instrumentos
musicais.
Page 5
de P1, pela sua irreverência ao burlar as normas de um sistema. Enquanto o branco
representa a espuma da cerveja, o amarelo corresponde ao conteúdo.
Em seguida, a câmera aproxima-se da janela do escritório, focando o
trânsito e destacando quatro caminhões amarelos com a palavra “Sol”, escrita em
vermelho, nas laterais. Os caminhões circulam em diversos sentidos e direções,
embaixo e em cima de um viaduto. O recurso de enquadrar, em fração de segundos,
tantos caminhões em um espaço limitado pela janela, possibilita mostrar o intenso
consumo da cerveja, e, especificamente, daquela marca, naquele período e pode
representar um convite a P1 refrescar-se. Ouve-se um coro masculino (CM) falar
forte e rapidamente “Sol!”.
Ainda no escritório (enunciado por P1 na cena 1), há uma predominância
de figuras masculinas, de fenótipo branco. Todas as pessoas estão vestidas
formalmente, uma delas gira a cadeira e quase todas as outras jogam os papéis
para cima. O CM, no jingle, convida: “Vamo aí, que o verão já começou!”. A
predominância de personagens masculinas e o coro, igualmente másculo, compõe
uma conjugação dinâmica que produz o sentido de que o convite, em 1ª pessoa do
plural “Vamo” (variação lingüística, português não padrão), dirige-se não só aos seus
pares, supostamente homens, jovens, de fenótipo branco, que trabalham em
escritórios, independentes financeiramente, mas também a todos os que se
identificarem com a proposta da marca. Vale ressaltar que não aparece qualquer
personagem de fenótipo negro. A observação dessa ausência é fundamental para a
análise proposta por esse trabalho.
Na seqüência, surgem vários “homens de escritório”, abrindo bruscamente
portas largas de madeira e saindo velozmente, alguns escorregando pelo corrimão
que divide a larga escadaria. Devido a tais elementos e à seqüência da narrativa,
que mostrava o escritório no alto de um prédio, o sujeito-telespectador pode deduzir
que se trata da saída do prédio em que fica o escritório. O recurso da associação do
CM - que completa a frase da cena anterior, “...que o verão já começou!” – com a
saída brusca das personagens aciona a idéia de viver intensamente o dia, ou carpe
diem.
Na segunda parte, exibe-se o interior de um carro esportivo de luxo, onde
se encontram 4 homens. Tal elemento visual pode reforçar a idéia da independência
financeira masculina. Assim como o automóvel dirigido, um Eco Sport, P1 conota
integração com a natureza e também propõe o carpe diem. Ao lado de P1, está um
homem jovem de fenótipo branco, atrás de P1, mais outro de fenótipo branco e,
atrás do banco do carona, um de fenótipo negro. Mas a sombra da prancha de surf,
que está sobre o veículo, esconde a personagem negra, vista com dificuldade pelo
telespectador. Essa personagem parece não ter nenhuma função, buscando ocupar
um espaço que efetivamente permanece vazio, numa clara tentativa de apenas
cumprir a lei 3198/00
7
que determina um percentual de 20% de negros em
programas televisivos.
7
Projeto de lei do Deputado Federal Paulo Paim (PT-RS).
Page 6
A câmera, que se encontra no interior do carro, aproxima-se e, quando dá
um close na face direita do motorista P1, focaliza, ao fundo, um ônibus que buzina.
Podem-se ver pessoas acenando dentro do ônibus azul. P1 continua a cantar,
completando a frase iniciada na cena anterior: “... não é verão, é um terror!”. O
conjunto dos elementos áudio-visuais que compõem o quadro cênico aciona a
memória do sujeito-telespectador, que deduz o desenrolar da narrativa, ou seja, o
sujeito antecipa que há mulheres no ônibus.
Na seqüência, lê-se apenas “olley Fe” na lateral do ônibus. Entre as duas
“palavras”, há o desenho de uma estrela. Dentro desse ônibus, há várias mulheres,
de fenótipo branco, amontoando-se nas janelas, olhando para a direção da câmera.
Como a câmera, na cena anterior, estava no interior do carro esportivo, é possível,
ao sujeito-telespectador, atribuir o sentido de que as mulheres estão olhando para
os homens do carro, ou, pelo menos, para os dois, de fenótipo branco, que estão na
lateral próxima ao ônibus. Ouve-se o CM: “Sol!”. A associação dos elementos áudio-
visuais pode levar o sujeito-telespectador a produzir o sentido da satisfação
masculina diante de tantas mulheres acenando. E como, na cena anterior, a buzina
partiu do ônibus onde estão as mulheres, sugere-se o sentido da lascívia feminina.
Em seguida, P1 e o passageiro que está na lateral direita do veículo, com
as janelas abertas, olham para o ônibus. O CM canta: “Vamo aí...”. Agora,
relacionando o jingle aos elementos visuais, o sujeito-telespectador pode atribuir ao
vocábulo “vamo” o sentido de anúncio de visita às mulheres, já que o vocábulo “aí”
parece referir-se a essas mulheres.
Surgem duas mulheres loiras: uma, que aparece no lado esquerdo do
vídeo, olha em direção à câmera e acena com um gesto de chamamento, abrindo e
fechando as mãos; a outra, do lado direito, segura uma lata de cerveja Sol. Ambas
estão vestidas em traje de banho, mais especificamente de biquíni. Diante dos
elementos visuais que compõem a cena, o sujeito-telespectador deduz o convite
feminino ao prazer carnal e, cristalizando o sentido de lascívia feminina. O CM
continua: “... que o verão...”.
Logo em seguida, a câmera se distancia e pode-se ler “Volley feminino” na
lateral do ônibus. E o CM conclui: “... já começou!”. Fecha-se também o círculo da
representação: finalmente, o sujeito-telespectador atribui sentido ao fragmento de
texto “olley Fe” da cena 8. A presença de estrangeirismo no vocábulo “volley” e a
grafia, em português, do vocábulo “feminino” são elementos da linguagem verbal
que, associados, podem dar sentido à nacionalidade das mulheres e ao status que
elas querem demonstrar. O sujeito telespectador pode atribuir o sentido de que são
brasileiras - pela grafia da segunda palavra – e que tentam demonstrar sofisticação
pelo uso da primeira palavra, escrita em inglês, língua falada pelo Primeiro Mundo.
Na terceira parte, ao fundo da cena, vê-se o ônibus estacionado ao lado
do carro esportivo. A praia aparece na parte inferior do vídeo. P1 abraça duas
mulheres loiras. Há outra personagem masculina também abraçada a uma mulher
loira. Ouve-se P1: “Agora, o lance...”.
Aparecem sombreiros amarelos da cerveja Sol, areia, mar, pessoas de
fenótipo branco. P1 continua: “...é achar o...”. A associação dos elementos áudio-
Page 7
visuais que constituem o quadro cênico cria condições do sujeito-telespectador
produzir o sentido de expectativa pela procura de algo (ou alguém) indefinido.
Em seguida, a câmera dá um close no rosto de P1, que aparece entre o
rosto de duas mulheres loiras. Então P1 completa o a frase: “... o vendedor.”. Após
esse instante da cena, a música para de tocar. A procura pelo vendedor e a
ausência de som produzem o suspense, a expectativa como efeito de sentido. Em
seguida, e ainda sem música, a câmara destaca um homem de fenótipo negro,
caminhando na areia, por entre os sombreiros amarelos, carregando uma caixa de
isopor pendurada ao pescoço, levantando uma lata de cerveja e anunciando em tom
pausado, quase cantado: “Ó a Sol! Nem forte, nem fraca, no ponto!”. Considerando
o contexto imediato da propaganda, a associação dos elementos áudio-visuais
permite que o espectador entenda que se trata do vendedor. O tom dado à cena
produz efeito de espetáculo, pois prende e seduz o sujeito-telespectador, ao lhe
mostrar o mundo exterior:
Não é possível fazer uma oposição abstrata entre o espetáculo e a
atividade social efetiva: esse desdobramento também é desdobrado.
[...] A realidade surge no espetáculo, e o espetáculo é real. Essa
alienação recíproca é a essência e a base da sociedade existente.
(DEBORD apud GREGOLIN, 2003, p. 9)
A propaganda simula a realidade quando mostra a personagem,
representação do vendedor ambulante de cervejas, carregada de características
próprias dos reais vendedores, constituintes do objeto representado. A produção de
sentidos pode não se encerrar por aí, uma vez que, a depender do interdiscurso do
sujeito-telespectador e, considerando o contexto histórico da construção da
identidade afro-descendente, podem ser produzidos, pelo menos, dois sentidos
diferentes: a cristalização da imagem do negro como serviçal, subempregado,
marginalizado; ou a indignação por perceber a tentativa de manutenção da idéia de
inferiorização racial do negro sugerida pela propaganda.
Imerso numa sociedade que tem no preconceito racial um dos pilares de
sua construção sócio-histórica, o negro precisa lutar cotidianamente para tentar
desconstruir as imagens criadas em torno da sua etnicidade:
[...] a identidade da pessoa negra traz do passado a negação da
tradição africana, a condição de escravo e o estigma de ser objeto de
uso como instrumento de trabalho. [...] A cor da pele e as
características fenotípicas acabam operando como referências que
associam de forma inseparável raça e condição social, o que leva o
negro à introjeção de um julgamento de inferioridade [...] (SOUZA
apud FERREIRA, 2000, p. 41-42)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Page 8
O negro, tanto no contexto imediato (o vídeo publicitário da cerveja Sol),
quanto no histórico-factual, difundido durante aproximadamente 400 anos pelos
europeus e seus descendentes, permanece subjugado a um discurso de
superioridade racial branca. Esta é munida de variadas formas de negação da
negritude, utilizando o espaço midiático como meio de propagar uma ideologia
baseada em pressupostos racistas.
A análise da propaganda demonstra como a mídia aproveita-se do poder
de seduzir os telespectadores, visto emocioná-los através da associação de
elementos sonoros e imagéticos, para reforçar o discurso racial já cristalizado sobre
os negros. A associação das falas e das imagens na produção do discurso
publicitário converge para o estabelecimento de uma suposta verdade, colocada
como inquestionável. Em O Bronzeador, a figura do negro é evidenciada através da
manutenção de estereótipos que lhe atribuem características, tais como: negro
servil, sofredor, incapaz de ocupar determinadas posições e papéis sociais, etc.b
Podemos verificar, na edição da peça publicitária em questão, que sequer
a cota mínima obrigatória prevista em lei federal foi preenchida, evidenciando que
não é apenas através da coersão que se conseguirá mudar o panorama nacional
previamente destinado à população negra, mas também investindo-se em
programas que busquem sensibilizar a sociedade de modo a despertar para a
necessidade da não reprodução do discurso ideológico vigente, buscando a
desconstrução de estereótipos que insistem criar, disseminar e perpetuar a idéia da
inferioridade negra.
É preciso quebrar o espelho que distorce a imagem que o negro tem de si
próprio, a fim de, igualmente, quebrar o processo cíclico onde a vida imita a arte que
imita a vida.
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REFERÊNCIAS
CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. Tradução
Fabiana Komesu. São Paulo: Contexto, 2004.
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COTAS. Lei 3198/00. Disponível em: www.mundonegro.com.br. Acesso em: 07 jul. 2007.
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Janeiro: Pallas, 2000.
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RABAÇA, C. A, e BARBOSA, G. Dicionário de comunicação. 3. ed. São Paulo: Ática, 1998.
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SILVERSTONE, R. Por que estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2002.

16 outubro 2008

A AIDS não é uma doença infecciosa



A AIDS não é doença infecciosa


Por Outra Visão 01/08/2008 às 23:56
Entrevista com Dr. Roberto Giraldo, Presidente do Grupo para a Reavaliação Científica da AIDS.
A AIDS (sigla em inglês da síndrome da imunodeficiência adquirida) não é uma doença infecciosa; não é causada por vírus e não se transmite por via sexual. Admitir a existência de um vírus - que até o momento não foi possível isolar - como origem da AIDS é negar as verdadeiras causas de uma infinidade de sintomas e patologias que a indústria médica decidiu chamar de AIDS, como são as enfermidades da pobreza e o enfraquecimento do sistema imunológico da raça humana. Admitir isso é questionar não só a origem de uma doença, como também grande parte dos problemas sanitários mundiais. A solução para a grande maioria desses problemas não depende de novos medicamentos e vacinas, mas de uma política justa, ética e solidária, hoje inexistente. Em linhas gerais, essas foram as conclusões apresentadas pelos cientistas dissidentes da versão oficial da AIDS no Encontro Internacional para a Reavaliação Científica da AIDS, organizado pela Asociación de Medicinas Complementarias, ocorrido em Barcelona, na Espanha, no mês de julho de 2002. O encontro, ignorado completamente pelos meios de comunicação, aconteceu paralelamente à Conferência Internacional da AIDS, patrocinada fundamentalmente pelas indústrias farmacêuticas. Como era de se esperar, as conclusões da Conferência sugeriram a promoção de novos medicamentos - e colossais investimentos para a pesquisa de uma hipotética vacina - como o único tratamento para as mais de seis milhões de pessoas afetadas. O Doutor Roberto Giraldo, ex-catedrático de Imunologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Antióquia, na Colômbia, e presidente do Grupo para a Reavaliação Científica da Hipótese do HIV-AIDS, denunciou uma vez mais, e com coragem, como o complô entre governos e indústrias farmacêuticas está pondo em perigo a sobrevivência do ser humano, com suas ações equivocadas, inverossímeis e terrivelmente mortais. Atualmente trabalha no Laboratório de Diagnóstico Molecular do New York Hospital Cornell Medical Center, de Nova Iorque. Ayda Ardila, da equipe de redação do boletim da Associação VIDA SANA de Barcelona, Espanha, entrevistou Dr. Roberto Giraldo. Dr. Roberto Giraldo, o que é a AIDS? É o estado máximo de degeneração a que um ser humano pode chegar. Antes da AIDS havia muitas doenças e muitas condições que indicavam que os tecidos, órgãos e sistemas do corpo humano estavam se deteriorando, mas com a AIDS falamos de um colapso de todos os sistemas e não somente do imunológico. É um sinal de alerta que nos indica que, pela primeira vez na história da humanidade, nossa espécie corre perigo de extinção. Quais são as manifestações clínicas da AIDS? Nem todo aquele que apresenta reação positiva nos exames do HIV (Human Immunodeficiency Virus) tem AIDS. Uma pessoa tem AIDS quando está doente, quando já tem as manifestações ou sintomas de que seu sistema imunológico está em colapso e muitos de seus órgãos estão sofrendo as conseqüências do estresse devido a tóxicos. O sistema imunológico nos defende de infecções, de tumores e coordena todos os órgãos e funções do corpo humano. Ocorrendo a falência desse sistema, o indivíduo é vítima de inúmeras infecções que atentam contra sua vida, como pneumonia, toxoplasmose, criptococose e candidíase. Aparecem tumores, como o sarcoma de Kaposi, que é um tumor de vasos sanguíneos que começa na pele e penetra nos pulmões, fígado e vias digestivas. Não podendo o sistema imunológico controlar todos os órgãos do corpo, o indivíduo sofre demência, enfraquece, perde a visão, envelhece, tem diarréia... Mas cuidado: nem todo aquele que padece de alguma dessas infecções tem AIDS. Para que haja AIDS, é preciso que ocorram muitas infecções ao mesmo tempo. E quanto à transmissão sexual? A AIDS não é uma infecção. Portanto, não se adquire mantendo relações sexuais com outra pessoa. Trata-se de uma doença tóxica e nutricional. Aconselho àqueles que padecem de AIDS a se informarem bem, pois existem dois lados na história da AIDS. Há o lado dos pesquisadores e defensores do HIV como sendo a causa da AIDS e há outro grupo de pesquisadores, jornalistas e ativistas de todo o mundo, além de gente comum, que acreditam, com base nos argumentos científicos disponíveis, que a AIDS não é uma doença infecciosa, não é causada por vírus, nem se transmite sexualmente. E o sexo seguro? Não há nenhum inconveniente em manter relações sexuais com uma pessoa portadora do HIV, porque não há nada a ser transmitido. O que é grave é fazer sexo com uma pessoa e usar drogas, porque isso vai deteriorar o sistema imunológico. O mito da transmissão sexual é tão difundido, que existem seis bilhões de pessoas no planeta que acreditam nisso e têm pânico de sexo! É preciso recuperar a vida sexual como uma das atividades fundamentais do ser humano, porque esse mito está criando problemas para as gerações futuras. Não se deve esquecer do uso do preservativo... Deve-se usar o preservativo para a finalidade que sempre teve: evitar a gravidez e o contato com o sêmen, pois está demonstrado que, quando se está doente, o sêmen é um agente biológico que reduz as defesas. O uso da camisinha evita a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis como a sífilis, a gonorréia... O preservativo não serve para evitar o contágio de um vírus que não existe! E quanto à transmissão por transfusão de sangue, uso de seringas ou pela mãe ao feto? Há uma crença generalizada de que a doença é causada pelo HIV. Mas nada disso foi comprovado cientificamente e trata-se somente de um mito. Ao fornecerem gratuitamente seringas aos usuários de drogas, os governos estão não só promovendo a toxicomania, como também aumentando o tráfico. É preciso dizer a verdade aos usuários de drogas: está comprovado cientificamente que o uso de drogas por longos períodos destrói o sistema imunológico e provoca AIDS. Qual é, então, a causa da AIDS? Na verdade há cinco agentes ou tóxicos que deterioram o sistema imunológico e causam AIDS: 1. agentes de origem química: drogas, contaminação ambiental, antibióticos, detergentes...; 2. agentes físicos: o ruído, viver em grandes alturas ou em grandes profundidades, o campo eletromagnético a que estamos submetidos pela criação cada vez mais freqüente de aparelhos elétricos, geradores de pequenas radiações, que, com o tempo, vão minando o sistema imunológico; 3. agentes biológicos: tudo aquilo que entra no corpo com vida, como o sangue, as vacinas, o sêmen...; 4. agentes mentais: a própria histeria de pânico à AIDS está criando estresse - de fato, há pessoas que fazem os exames todos os meses até sair positivo, pois está comprovado que o estresse produz grande aumento de anticorpos poliespecíficos no sangue, os quais provocam uma reação positiva nos exames, mesmo não havendo nenhuma infecção - a ansiedade, a depressão, viver negativamente...; 5. agentes nutricionais: o excesso de comida errada ou a falta de comida saudável. Nos países pobres, a AIDS é causada por fome, porque não se come o suficiente para satisfazer as necessidades do organismo.
Mas a fome existe há muitíssimo tempo na África... Sim, mas antes a África e os países pobres nunca haviam sido tão pobres como agora - e tudo tem limites. A renda per capita está diminuindo. Há cada vez menos dinheiro para comprar o básico, cada vez se come menos. A falta de comida está fazendo com que as crianças nasçam menores, cresçam menos e que a expectativa de vida diminua... Isso indica que a pobreza não é a mesma de sempre e que o corpo já não agüenta mais! As pessoas na África têm fome, desnutrição, parasitos e falta de higiene em decorrência da pobreza a que estão submetidas. Por isso é que lá há tantos casos de AIDS. Por que persiste o mito da transmissão da AIDS? Na década de sessenta começou um movimento de libertação que levou ao exagero de certos direitos, dando lugar a orgias e ao consumo excessivo de drogas durante o ato sexual, entre as quais, os poppers (nitritos de amila e butila), usados como afrodisíacos que estimulam o desejo sexual e produzem o relaxamento de alguns esfíncteres do corpo humano, permitindo a penetração de objetos grandes no reto ou outros orifícios. Os primeiros casos de AIDS, em 1981, apareceram num grupo de homossexuais de Los Angeles, que realizavam esse tipo de práticas anormais. Enfatizo a caracterização de anormais, porque é preciso esclarecer que a homossexualidade nunca foi causadora de doença; é uma forma de vida que existe há milhares de anos e tão comum e regular quanto a heterossexual. Foi então que o CDC - Centro de Controle das Doenças dos Estados Unidos - cometeu um tremendo erro: não se perguntou o que tinha acontecido com essas pessoas. Os pesquisadores determinaram que, como era um grupo de homossexuais, a AIDS era uma doença de transmissão sexual. Sem comprovação científica? Quando se recorre a pesquisas científicas para encontrar a causa dessa transmissão, não se acha nada que confirme tal afirmação. Trata-se de um boato que foi crescendo graças aos meios de comunicação. O CDC é culpado desse mito? Sim, e continuarei fazendo essa afirmação ainda que me digam que estou fazendo uma acusação muito grave, por ser cidadão americano. Fui vítima de muitas perseguições pelos órgãos de saúde do governo americano. Pediram minha destituição do hospital onde trabalho, fizeram contra mim toda sorte de ofensas em razão do que tenho dito, mas estou convencido de que alguém tem que levantar a voz em defesa das pessoas e continuarei denunciando que o CDC criou um mito e está atentando contra a saúde e o bem-estar das pessoas em todo o mundo. Por que os grupos dissidentes são um perigo para os governos, indústrias farmacêuticas, Banco Mundial...? Os dados científicos indicam que estamos com a razão e isso é muito grave, porque não há nada em comum entre nosso ponto de vista sobre a AIDS e o dos defensores ortodoxos do HIV. A ciência cometeu um erro muito grave. A AIDS é a doença que, na história da medicina, mais se difundiu. Entretanto, não é a doença que mata mais pessoas no mundo. Estatisticamente é superada pelos acidentes, assassinatos, suicídios, câncer, doenças cardiovasculares, doenças infecciosas... Apesar disso, as pessoas não sabem muito sobre malária ou tuberculose e todo mundo acha que entende de AIDS e de sexo. Alguém provocou um caos para seis bilhões de pessoas e, quando o mundo se der conta disso, será muito embaraçoso e não vão perdoar alguns pesquisadores do governo por essa colossal mentira. Aproxima-se um caos mundial? Há implicações políticas sérias porque, uma vez descoberta a verdade, quem vai acreditar de agora em diante nos governos do mundo? Quem vai acreditar nas companhias farmacêuticas, que estão produzindo drogas para matar um vírus que nunca foi visto? Certamente haverá um caos, mas nós, dissidentes, pensamos que os problemas graves têm soluções. Estamos apenas mostrando a verdade ao mesmo tempo em que torcemos para que isso não seja muito violento nem caótico. Mas há outros interesses... Há quatro anos, quando fui à Conferência Mundial da AIDS, em Genebra, percebi que, junto aos estandes das indústrias farmacêuticas e das ONGs, havia um estande muito grande do Banco Mundial. Perguntei-me o que aquela instituição estava fazendo lá. Muito simples: o Banco Mundial lançou vários livros sobre a AIDS e está oferecendo empréstimos aos países pobres para que comprem medicamentos das companhias farmacêuticas americanas para tratar de um vírus inexistente, medicamentos que, em vez de curar, aceleram a morte do doente. Qual a sua opinião sobre os medicamentos para pacientes de AIDS? Diz-se que a AIDS é uma doença viral. Mas, como todos os medicamentos contra vírus são terrivelmente tóxicos, não temos medicamentos para a poliomielite, hepatite B e A, dengue e outras doenças autenticamente virais. A uma pessoa que tem poliomielite, não se pode dar um tratamento para acabar com o vírus da pólio, porque isso acabaria matando essa pessoa e a medicina tem conhecimento desse fato há mais de cem anos. Por isso, chama a atenção que agora os pesquisadores das companhias farmacêuticas tenham resolvido desrespeitar um século de conhecimentos sobre a virologia e estejam inventando medicamentos para tratar de um vírus que nunca foi visto, nem isolado, nem cultivado. O vírus da pólio existe, como o da hepatite, da dengue..., mas o da AIDS, ainda precisam nos mostrar! A imagem do vírus que apresentaram na conferência oficial nada mais é do que uma criação virtual. Como curar a AIDS? Os medicamentos são terrivelmente tóxicos e as próprias indústrias farmacêuticas fazem essa advertência nas bulas para se eximirem de toda responsabilidade. Nós, dissidentes, insistimos que a AIDS pode ser curada com medicamentos não-tóxicos, que resultam em cura definitiva, e não com antiviróticos, que destroem os tecidos do organismo e provocam a morte do paciente. Quando isso acontece, os pesquisadores simplesmente explicam que o vírus sofreu mutação e se tornou resistente. Qual é o tratamento a ser seguido? Para os que não estão tomando medicamentos, é muito fácil: devem ficar longe de todos os agentes tóxicos que já mencionamos. Para aqueles que tomam medicamentos, sugiro que não os suspendam de um dia para o outro, pois existe o efeito placebo: a pessoa pode estar tomando esses medicamentos e acreditar que lhe fazem bem e essa crença lhe fará bem por um longo tempo. Se o uso do medicamento é suspenso e a pessoa se sente insegura, nesses dias pode sofrer um colapso do sistema imunológico e morrer. Primeiramente é preciso informar-se bem e ir diminuindo gradativamente o uso, com o acompanhamento de um profissional da saúde. Na medicina natural, por exemplo, são feitos excelentes tratamentos de desintoxicação, porque uma pessoa que tem AIDS (ou é soropositiva) está simplesmente intoxicada, oxidada, mas não infectada . A solução é a desintoxicação? Sim, e posteriormente os órgãos e sistemas enfraquecidos devem ser estimulados pelo uso de vitaminas C, A e E, que são fortes antioxidantes. Se a pessoa é muito pobre, só a vitamina A é suficiente, pois até os defensores do HIV têm demonstrado que, se uma mãe tem bom nível de vitamina A no sangue, o filho jamais nascerá com AIDS, nem se tornará soropositivo. Mais que isso: se um soropositivo tiver níveis normais de vitamina A no sangue, nunca terá AIDS. Se o orçamento não é suficiente para comprar vitaminas, será preciso comer cenoura, frutas e verduras frescas que contenham muito caroteno, que são uma boa fonte de vitamina A. Portanto, a pessoa pode se curar facilmente e de forma pouco dispendiosa e, uma vez curada, pode ter uma vida normal.


Referências: Dr.Roberto Giraldo, Sida Y Agentes Estresantes, Editorial de La Universidad de Antioquia, Colombia. Em sua pesquisa, o Dr. Giraldo destaca as principais contribuições científicas de Peter Duesberg e do Grupo de Perth dirigido por Eleni Papadopulos-Eleopulos. robgiraldo@aol.com Dr. Etienne de Harven, França. Especialista em microscopia eletrônica. Detalha razões científicas segundo as quais Luc Montagnier, Roberto Gallo e Jay Levy nunca isolaram o chamado HIV. Oferece detalhes técnicos para explicar porque não existe uma fotografia de microscópio eletrônico do suposto vírus da AIDS. pitou.deharven@wanadoo.fr Na Conferência Internacional da AIDS, o proclamado descobridor do vírus da AIDS, Roberto Gallo, apostou nos inibidores de fusão como a nova alternativa contra a AIDS. Deu aval ao medicamento apresentado durante a Conferência, o T20, que será comercializado pela indústria farmacêutica Gilead Sciences, com o nome de Viread, para o qual o Ministério da Saúde espanhol já deu sua aprovação. Como diriam os dissidentes da AIDS: "Viread, um novo tóxico para matar os doentes de AIDS".
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30 setembro 2008

PSICÓLOGO GARI


PSICÓLOGO GARI

A moral e os costumes que dão cor à vida, têm muito maior importânciado que as leis, que são apenas umas das suas manifestações.A lei toca-nos por certos pontos, mas os costumes cercam-nos por todosos lados, e enchem a sociedade com o ar que respiramos.'· Toda ação repetida gera hábito.· O hábito muda o caráter.· O caráter muda a existência.· 'Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível'Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoasenxergam apenas a função social do outro. Quem não está bemposicionado sob esse critério, vira mera sombra social.O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhouoito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali,constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são'seres invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP,conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja,uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisãosocial do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o saláriode R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maiorlição de sua vida:'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, podesignificar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explicao pesquisador.O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e nãocomo um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores daUSP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Àsvezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas,seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em umorelhão',diz. Apesar do castigo do sol forte, do trabalho pesado e dashumilhações diárias, segundo o psicólogo, são acolhedores com quem osenxerga. E encontram no silêncio a defesa contra quem os ignora.Diário - Como é que você teve essa idéia?Fernando Braga da Costa - Meu orientador desde a graduação, oprofessor José Moura Gonçalves Filho, sugeriu aos alunos, como uma dasprovas de avaliação, que a gente se engajasse numa tarefa proletária.Uma forma de atividade profissional que não exigisse qualificaçãotécnica nem acadêmica. Então, basicamente, profissões das classespobres.Com que objetivo?A função do meu mestrado era compreender e analisar a condição detrabalho deles (os garis), e a maneira como eles estão inseridos nacena pública. Ou seja, estudar a condição moral e psicológica a qualeles estão sujeitos dentro da sociedade. Outro nível de investigação,que vai ser priorizado agora no doutorado, é analisar e verificar asbarreiras e as aberturas que se operam no encontro do psicólogo socialcom os garis. Que barreiras são essas, que aberturas são essas, e comose dá a aproximação?Quando você começou a trabalhar, os garis notaram que se tratava de umestudante fazendo pesquisa?Eu vesti um uniforme que era todo vermelho, boné, camisa e tal.Chegando lá eu tinha a expectativa de me apresentar como novofuncionário, recém-contratado pela USP pra varrer rua com eles. Mas osgaris sacaram logo, entretanto nada me disseram. Existe uma coisatípica dos garis: são pessoas vindas do Nordeste, negros ou mulatos emgeral. Eu sou branquelo, mas isso talvez não seja o diferencial,porque muitos garis ali são brancos também. Você tem uma série defatores que são ainda mais determinantes, como a maneira de falarmos,o modo de a gente olhar ou de posicionar o nosso corpo, a maneira comogesticulamos. Os garis conseguem definir essa diferenças com algumasfrases que são implesmente formidáveis.Dê um exemplo.Nós estávamos varrendo e, em determinado momento, comecei a papear comum dos garis. De repente, ele viu um sujeito de 35 ou 40 anos deidade, subindo a rua a pé, muito bem arrumado com uma pastinha decouro na mão. O sujeito passou pela gente e não nos cumprimentou, oque é comum nessas situações. O gari, sem se referir claramente aohomem que acabara de passar, virou-se pra mim e começou a falar: 'ÉFernando, quando o sujeito vem andando você logo sabe se o cabra é dodinheiro ou não. Porque peão anda macio, quase não faz barulho. Já opessoal da outra classe você só ouve o toc-toc dos passos. E quando agente está esperando o trem logo percebe também: o peão fica todoencolhidinho olhando pra baixo. Eles não. Ficam com olhar só por cimade toda a peãozada, segurando a pastinha na mão'.Quanto tempo depois eles falaram sobre essa percepção de que você era diferente?Isso não precisou nem ser comentado, porque os fatos no primeiro diade trabalho já deixaram muito claro que eles sabiam que eu não era umgari. Fui tratado de uma forma completamente diferente. Os garis sãocarregados na caçamba da caminhonete junto com as ferramentas. É comose eles fossem ferramentas também. Eles não deixaram eu viajar nacaçamba, quiseram que eu fosse na cabine. Tive de insistir muito parapoder viajar com eles na caçamba. Chegando no lugar de trabalho,continuaram me tratando diferente. As vassouras eram todas muitovelhas. A única vassoura nova já estava reservada para mim. Não medeixaram usar a pá e a enxada, porque era um serviço mais pesado. Elesfizeram questão de que eu trabalhasse só com a vassoura e, mesmoassim, num lugar mais limpinho, e isso tudo foi dando a dimensão deque os garis sabiam que eu não tinha a mesma origem socioeconômicadeles.Quer dizer que eles se diminuíram com a sua presença?Não foi uma questão de se menosprezar, mas sim de me proteger.Eles testaram você?No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram umagarrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinhacaneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo deoutra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo,alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latãode lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pelametade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a genteestava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eununca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveriatomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirouas latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira,tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei acaneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena,como se perguntasse: 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessacaneca?' E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou.Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aíeu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei peloandar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei nabiblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico,passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiztodo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensaçãomuito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, umaangustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivessesido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para otrabalho atordoado.E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também asituações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor seaproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele iapassar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como setivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.E quando você volta para casa, para seu mundo real?Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que vocêestá inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais.Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doençaburguesa. Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles,freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo decumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber queeu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animaldoméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossemuma 'COISA'.Plinio Delphino-Diário de São Paulo

18 setembro 2008

Racismo fenotípico e estéticas da segunda pele




Racismo fenotípico e estéticas da segunda pele
José Jorge de Carvalho
Ensaios Críticos


Se algo caracteriza a nossa era, em todo o planeta, é a presença do racismo fenotípico intenso. Os seres humanos que classificamos como caucasianos, isto é, de pele clara, olhos claros, cabelos lisos e narizes finos - enfim, os “brancos” ocidentais, europeus em geral e muito particularmente os anglo-saxões - definiram um padrão de valor e beleza para toda a espécie humana e o impuseram (antes a ferro e fogo e atualmente através da indústria cultural e do controle político e financeiro) a todo o resto do mundo. Essa imposição começou no séc. XVI, quando os europeus conquistaram a América e consolidaram o tráfico de escravos da África para o Novo Mundo. A partir daí, a combinação de escravidão, colonialismo e capitalismo marcou a imagem do homem branco ocidental como superior aos não-brancos (que começaram a ver-se como não-brancos) dos demais continentes.
Esse racismo fenotípico cresceu ainda mais na época do alto imperialismo, alcançando dimensões definitivamente globais no final do séc. XIX, quando a auto-intitulada “raça branca” se impôs nos cinco continentes e forçou os colonizados do mundo (americanos, africanos, asiáticos, povos do Oriente Médio, da Ásia Menor e oceânicos) a aceitá-la como padrão de referência. E não somente a teoria racista moderna, formulada nos países ocidentais, como também a pedagogia para transformar o corpo branco ocidental em objeto de desejo universal e inconteste de referência foi produzida e imposta nas colônias dos impérios europeus. [1]
Essa referência generalizada do mundo ocidental como sinônimo de humanidade plena centrou-se primeiramente na superioridade militar (pois foi pelas armas que os europeus dominaram os outros continentes); logo, na econômica, por controlar o comércio e a expansão do capitalismo; paralelamente, o controle político, por impor e dispor dos regimes locais segundo seus interesses; depois, o controle científico e artístico, ao desqualificar os saberes e valores estéticos locais e universalizar os padrões ocidentais nas ciências e nas humanidades. Para culminar essa dominação, os próprios corpos dos europeus passaram a indicar, por coerção e rendição, as características físicas da raça humana superior. O significante mais sobressalente desses corpos europeus foi, sem dúvida alguma, a cor da pele, que foi complementada, ao longo do tempo da ocidentalização do mundo, por outras características físicas também secundárias do ponto de vista genotípico, como a altura, o formato dos olhos, do nariz, dos lábios, dos pomos da face e a textura dos cabelos.
Atualmente, os seres humanos, queiram ou não, são cada vez mais tratados de acordo com as características fenotípicas da sua pele. Em primeiro lugar, os não-brancos são tratados de um modo negativo e desqualificador pelos brancos; e, logo, os próprios não-brancos introjetam essa inferioridade fenotípica e passam a organizar suas vidas de acordo com a rejeição à ausência de brancura e também segundo seu esforço por emular essa mesma pretensa brancura. Desse modo, o racismo fenotípico cresce a cada dia e força a maioria das pessoas a tentar ajustar sua pele para aproximar-se, ainda que minimamente, do padrão de corpo ideal; ou, pelo menos, para afastar-se das imperfeições físicas que acreditam portar e com que se identificam a partir da sua consciência colonizada. Desde o início do século XX, com a difusão da linguagem cinematográfica, a operação de identificação passa da pele para o corpo como um todo, envolvendo a anatomia com sua gama de proporções e complexidades fisiológicas.
No início do século vinte, o racismo fenotípico era uma estrutura de discriminação que favorecia sempre os brancos e prejudicava exclusivamente os não-brancos. No momento presente, porém, cresce uma patologia de desconforto generalizado com a própria pele, não apenas entre os não-brancos, mas também entre os brancos. E, conforme veremos mais adiante, é esse desconforto que induz as pessoas, praticamente no mundo inteiro, a promoverem intervenções cada dia mais radicais, dolorosas e agonísticas (dada sua incapacidade a priori de resolver a auto-rejeição corporal que passaram a sofrer) no próprio corpo.
É uma questão controversa definir se a classificação dos seres humanos com base no fenótipo existiu sempre ou se é uma invenção do mundo moderno ocidental. Vários estudiosos têm procurado demonstrar, através de evidências arqueológicas e documentais, que as sociedades do mundo antigo, antes mesmo do mundo grego (como os hindus e os egípcios, por exemplo), já classificavam os grupos humanos entre aqueles compostos por pessoas mais claras e por outras mais escuras de pele; e atribuíam as qualidades positivas e desejadas (as qualidades dos nativos e de seus aliados) às pessoas de pele mais clara, jogando os seres humanos de pele mais escura na vala comum dos estranhos, dos inferiores, dos bárbaros, dos incapazes, dos inimigos ou dos perigosos em geral.
Inspirados na idéia dos vários tempos das desigualdades profundas (como o são as de gênero e as étnico-raciais), podemos denominar essa teoria como racismo de longa duração, ou de racismo monumental, se comparado com outra estrutura hierárquica de longa duração, que é a estrutura de gênero. É possível aproximar o tempo longo do racismo com o tempo longo da mulher, tal como teorizado por Julia Kristeva, por exemplo, ao discorrer sobre os vários tempos e gerações dos feminismos. [2] A desigualdade de gênero, ou o patriarcado, atravessou eras, civilizações, regimes políticos e econômicos, ao longo de milênios, chegando até os nossos dias com sua base ideológica ainda vigente e eficaz; esse mesmo tempo monumental parece ter ocorrido com o racismo fenotípico.
A formulação mais erudita e mais contundente politicamente acerca da existência desse racismo fenotípico de longa duração, ou monumental, foi produzida nos anos sessenta do século passado pelo grande cientista e humanista senegalês Cheik Anta Diop. [3] Utilizando as mais diversas fontes históricas, arqueológicas, lingüísticas e apoiando-se também em datações do carbono 14 por ele mesmo concebidas, Diop procurou demonstrar que o racismo fenotípico já estava presente há pelo menos 4 mil anos atrás, quando os primeiros códigos “civilizatórios” escritos atribuíram características morais distintas aos grupos de peles claras e aos de peles escuras. Segundo esse raciocínio, o racismo moderno se expandiu pelo planeta com tanta intensidade justamente porque se adaptou a um solo imaginário que já havia reservado um lugar de superioridade aos povos de pele clara.
Todavia, mesmo reconhecendo a sólida base documental da teoria de Cheik Anta Diop, parece um pouco difícil generalizar essa posição quando sabemos que as sociedades ditas antigas ou clássicas (e que supostamente formaram o que chamamos de mundo ocidental) não eram homogêneas fenotipicamente. Conseqüentemente, não eram exclusivamente brancas – pelo menos, não eram brancas do modo como as sociedades ocidentais exigem ser vistas atualmente. Assim, tanto os gregos como os romanos eram povos multiculturais e multi-étnicos. Duas questões importantes acerca da relação entre a pele e a cultura surgem dessa reavaliação do que chamamos de mundo clássico greco-romano.
Cheik Anta Diop foi provavelmente, em todo o século vinte, o maior autor individual que conseguiu desmontar cientificamente o mito racista ocidental da superioridade da civilização grega, como se essa representasse um milagre singular e irrepetível da inteligência, da moral, da política e da beleza – e, fator essencial na luta pela descolonização, como se os europeus modernos fossem herdeiros diretos dessa suposta superioridade civilizatória grega. Diop dedicou-se a mostrar que uma grande parte das supostas descobertas que caracterizaram o que aprendemos nas escolas como “milagre grego” foram, na verdade, não muito mais do que cópias explícitas (e reconhecidas, inclusive, pelos mesmos autores gregos da era clássica) de descobertas feitas pelos egípcios muitos séculos antes. Diop demoliu a hierarquização fenotípica dos seres produzida pelos imperialismos europeus ao demonstrar duas verdades paralelas e complementares: primeiro, que os egípcios eram negros e, ao contrário do que pregava a ideologia imperialista, foi então um conjunto de povos negros que formularam uma das bases do que chamamos de “civilização”.
Remando contra a corrente racista qures produzida pelos imperialismos europeus ao demoinstrar duas vedades paralelas e co-dependentee impera ainda hoje nas instituições acadêmicas dentro e fora do mundo ocidental, outros pesquisadores, como Martin Bernal [4] nos anos oitenta do século passado e Benjamin Isaac [5] na presente década, demonstraram que o mundo grego antigo não era um mundo “branco”, tal como atribuímos hoje uma brancura aos alemães e aos ingleses, por exemplo; muito pelo contrário, tratava-se de um mundo de muitas cores de pele e traços fenotípicos variados, dada a convivência secular e constante com egípcios, fenícios, persas e judeus, todos de pele escura, ou não-branca (se utilizamos a pele dos nórdicos, arianos e saxões como referência). Ou seja, havia entre os gregos o que Issac denomina de proto-racismo, mas a cor da pele não era nem o critério central nem o único para a produção de uma hierarquia de valores atribuídos aos diferentes grupos humanos então conhecidos.
Mais que negar de frente a validade dessa teoria que defende a idéia de um racismo fenotípico de longa duração (Diop chega a defender a hipótese de que já na Índia antiga consolidou-se uma oposição entre etnias de pele clara – os arianos, por exemplo – e as de pele escura – os dravídicos, povos originários do Vale do Indus), penso que ela deve ser matizada e combinada com outras teorias, inclusive para não perdermos o foco do tipo de racismo contemporâneo que é nossa tarefa contribuir para dissolver. Nesse sentido, acredito que a absolutização verdadeiramente patológica das marcas fenotípicas para distinguir os seres humanos que nos interpela diariamente, seja pela realidade virtual seja pelas relações concretas entre as pessoas, é uma prática tipicamente moderna, que foi se consolidando nos países europeus entre os séculos XVI e XVIII e que tem sido imposta violentamente para todo o planeta desde a segunda metade do século XIX até os nossos dias.
Quanto mais se intensificou o colonialismo europeu nos demais continentes do mundo, mais intenso foi ficando o racismo dos brancos contra os não-brancos. O imaginário racista que nos interpela terminou por estabilizar uma hierarquia dos seres humanos que colocou no topo da pirâmide os homens brancos, de pele clara, olhos preferencialmente claros e cabelos preferencialmente loiros. Em cada região do mundo dominada pelos europeus (e, no século XX, também pelos Estados Unidos) foi gerada uma pigmentocracia entre os não-brancos: quanto mais claros (ou menos escuros) de pele, menos discriminados; e, quanto mais escuros, mais facilmente situados na parte inferior da hierarquia dos seres humanos e, portanto, mais discriminados, excluídos e passíveis de serem eliminados da face da terra. Assim como os povos das Américas foram transformados em índios, todos os povos europeus foram transformados em brancos e os não-europeus em não-brancos, ou nativos de alguma parte do mundo extra-europeu.
A revolução industrial possibilitou a disseminação das imagens racistas em uma escala monumental, sem precedentes na história da humanidade. Antes do século XVIII não havia meios tecnológicos para difundir o imaginário produzido com a finalidade de impor a superioridade branca no mundo inteiro. Assim como Walter Benjamin [6] construiu uma história das transformações da obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, devemos agora incluir um recorte racial ou fenotípico em seu modelo interpretativo e refletir sobre a difusão e mesmo a naturalização das imagens do mundo clássico (da chamada beleza greco-romana) e do mundo europeu moderno.
Paralelo à passagem da arte aurática à arte sem aura (a arte que se reproduz tecnicamente e se afasta de sua dimensão única e sagrada), foi posto em marcha um processo contínuo e cada vez mais eficaz de fabricação estética da hierarquia dos seres humanos. Todo o repertório das artes visuais clássicas – as estátuas, as pinturas, os desenhos, as xilogravuras, gregas, romanas e medievais – foi atualizado através de reproduções técnicas, difundidas conscientemente, como uma política imperial, pelos quatro cantos do mundo a partir do século XVIII. Nos últimos duzentos anos, esse processo se intensificou ainda mais com a difusão dos livros didáticos, das revistas, dos jornais, dos catálogos de exposições, das capas de livros – enfim, com todo tipo de ilustrações que possibilitou, através do impacto direto de imagens, fixar os seres humanos ocidentais (homens e mulheres) em uma posição de destaque e controle face aos não-ocidentais. Obviamente, destaque e controle tornaram-se padrões de beleza.
Aqui, é preciso lembrar dos critérios de seleção das imagens clássicas que passaram a circular obrigatoriamente pelas colônias. As imagens preferidas foram aquelas em que os deuses, heróis ou seres humanos extraordinários do mundo clássico apresentassem traços fenotípicos mais próximos dos europeus modernos. E, além da cor da pele, procurou-se fixar também um tipo de proporções anatômicas mais de acordo com aquelas dos brancos modernos. Algumas esculturas gregas e romanas que não se encaixavam na imagem dos gregos como brancos europeus modernos, como o complexo do Laocoonte, por exemplo, foram descartadas e deixadas de fora dos livros de história da arte, em uma espécie de censura estética e racista que atravessou os últimos trezentos anos até praticamente os dias de hoje. Ou seja, por um lado, as elites intelectuais dos imperialismos europeus procuraram europeizar as artes greco-romanas. E, paralelamente, investiram ferozmente na produção de imagens dos europeus com traços helenizados. Houve, assim, uma obra de branqueamento que se voltou também para o interior do mundo europeu moderno.
A primeira lição do corpo em sociedade é que em nenhum lugar do mundo, até hoje, o corpo biológico é o corpo social. O corpo sempre tem um sujeito, está inserido em alguma comunidade, grupo, etnia ou nação. O corpo sempre é marcado, em alguma medida, pelas convenções culturais daquele grupo humano. São as marcas inscritas no seu corpo que singularizam o grupo étnico a que o indivíduo pertence. E é justamente apoiado na singularidade de um grupo humano que cada indivíduo pode aprender a desenvolver e a expressar a sua própria individualidade. São essas marcas, impressas temporária ou definitivamente na nossa pele biológica (nossa primeira pele, digamos), que conformam a nossa segunda pele, a pele que nos faz seres humanos para os outros seres humanos (se é a segunda pele que nos faz seres humanos também para os animais é uma questão aberta que não posso equacionar neste momento). Algumas dessas marcas incluem: as escarificações, as pinturas corporais, os furos e alongamentos nos narizes, os lóbulos furados, os lábios furados, os cortes longilineares nos pomos da face (as marcas de nação dos grupos da Costa Ocidental da África); os adereços, fixos ou intermitentes, que recobrem e sinalizam, como os braceletes, os colares, os brincos, os chapéus, as tornozeleiras. Em todos os corpos, a beleza é o resultado de alguma intervenção física que completa o trabalho puramente natural da anatomia herdada no nascimento.
O grupo étnico, ou a nação, é o ser que o indivíduo absorve, introjeta, incorpora e logo exibe, exterioriza, expressa simbolicamente e é reconhecido como membro do grupo pelos que já a ele pertencem, a saber, pelos que se iniciaram antes. Como são muitas as nações e variados os corpos por elas marcados, pode surgir o fascínio e o desejo de assumir a marca alheia, ou a marca de que se carece. O desejo de identificar-se com o outro através do canibalismo cultural é visível na maquiagem étnica. O filme Cannibal Tours, de Dennis O´Rourke [7] , mostra os turistas europeus nas aldeias da Nova Guiné pintados como os nativos e brincando alegremente de ser outros ao adquirir temporariamente (e através de um comércio, obviamente) as marcas de nação – enfim, podem experimentar uma segunda pele, eles que se vêm como universais, não-étnicos, sujeitos supostamente livres de se apresentar socialmente apenas com sua primeira pele. Também o rockeiro Sting foi ao Xingu, no início dos anos noventa, guiado pelo cacique Raoni e se pintou como os índios Txukarramãe, posando assim temporariamente de índio, a despeito da sua pele branca e do seu cabelo loiro.
A mesma sociedade que desenvolveu a tecnologia da desaparição da segunda pele oferece agora dois tipos de tecnologia destinados a intervir no corpo na tentativa de recobrar uma dignidade mínima diante do padrão racista idealizado. Primeiro, e mais definitivamente, ou através da operação plástica, alterando diretamente as proporções anatômicas; ou através das tecnologias de retoque da imagem, que evoluíram da intervenção física na fotografia impressa, depois nas alterações de pontos do negativo da foto até finalmente na manipulação do arquivo digital, que se tornou hoje metáfora com o termo photoshop.
No presente momento, a biopolítica ocidental da primeira pele parte do princípio de que todos os seres humanos que se subjetivam segundo a lógica da indústria cultural são feios. Em uma sala de aula com 30 estudantes, perguntei este ano quem se achava bonito e todos responderam que se sentiam feios e imperfeitos. A indústria da pele decreta que toda a humanidade, sem exceção, deverá se submeter a algum tipo de intervenção cirúrgica e/ou algum tipo de tratamento químico industrializado. Tratamentos “alternativos” também valem, desde que estejam inseridos no mercado alternativo de mercadorias. As pessoas já começaram a ser divididas entre as que têm e as que não têm intervenções corretivas na pele. Raciocínio invertido, pois é justamente a segunda pele que garante a beleza da primeira pele.
Tentemos resumir esse complexo processo histórico, com todas suas ramificações políticas, estéticas, econômicas, tecnológicas, psíquicas e até ecológicas.
1. A ênfase na cor da pele, ainda no racismo fenotípico monumental, implicou um apagamento das diferenças e marcas da segunda pele, mesmo no interior dos grupos humanos do mundo antigo que supostamente partilhavam da mesma cor. Esse racismo de longa duração generalizou os brancos, como se fossem todos iguais e os escuros, ou não-brancos, como se também fossem todos iguais.
2. Se pensamos agora no racismo fenotípico moderno, o efeito foi igualmente devastador. Unindo arte clássica grega selecionada e repadronizada para fins de fantasia de compatibilidade com os corpos das elites dos países europeus centrais, a difusão do padrão branco ocidental passou da cor da pele para as proporções anatômicas ditas “clássicas”: para os homens, altura de 1,80m, nem magros nem gordos; para as mulheres, altura de 1,75m, seios de tamanho médio, sem excesso de quadril nem de glúteos, mais um sem número de medidas secundárias que foram trabalhadas de um modo cada vez mais milimétrico a partir do século XIX. Foi então o corpo hegemônico ocidental, idealizado como uma reencarnação do corpo grego clássico que se tornou medida para todos, inclusive para os próprios ocidentais.
3. Apagaram-se as diferenças da segunda pele entre os brancos. Espanhóis, portugueses, italianos, ingleses, alemães, holandeses, que eram percebidos como muito diferentes entre si no séc. XVI, passaram a ser simplesmente brancos no fim do séc. XIX. A indústria das imagens foi crucial nesse processo de unificação, porque complexificou e massificou os parâmetros da anatomia do corpo hegemônico.
4. A eliminação da segunda pele entre os brancos provocou uma exclusão paradoxal entre eles: estavam unificados pela primeira pele, mas nem todos possuíam as proporções hegemônicas, a anatomia normatizada. O cinema fez crescer essa sensação de imperfeição, porque todo o cinema provocou um achatamento dos signos corporais quando reduziu o corpo a duas dimensões.
5. Em uma passagem antológica da literatura européia do século XX, Hermann Hesse dizia, no seu livro mágico O Jogo das Contas de Vidro [8] , que todas as músicas da época de Monteverdi eram belas. Entendemos que faz sentido o que diz Hesse: naquela época ainda havia iniciação e gnose nas nações européias e a música era bela porque expressava a beleza das pessoas. Do mesmo modo podemos dizer: todos os tajiques são belos, todos os iorubás são belos, todos os kaxinauás são belos, todos os uighur são belos, todos os aimarás são belos, todos os balineses são belos, assim como todas as suas músicas são belas.
Fizemos um zoom crescente da geografia à religião, à ordem legal, à cultura, para finalmente chegar à genética e chegamos a um paradoxo: há uma luta atual por desqualificar a base genética da raça e, ao mesmo tempo, uma obsessão por aproximar-se da loirice e da brancura. Pessoas colocam lentes de contato para deixar os olhos mais claros, água oxigenada para deixar os cabelos loiros, produtos químicos para alisar os cabelos, operações plásticas nos países asiáticos e andinos para diminuir ou retirar a dobra mongólica em volta dos olhos (os olhos “puxados” dos japoneses, e das populações indígenas sul-americanas); plástica para diminuir as fossas nasais dos povos africanos; cremes de vários tipos para clarear a cor da pele. Há uma polêmica dramática na Índia, atualmente, provocada por um dos mais famosos atores indianos que aceitou fazer propaganda de um creme que clareia a pele - um paradoxo racista de conseqüências geopolíticas monumentais. O objetivo último da corporação ocidental que fabrica o creme (e da suposta civilização ocidental que a estimulou a conceber essa idéia macabra) é simplesmente clarear a cor da pele de um bilhão de pessoas!
A indústria de imagens da sociedade de massa nasceu após a consolidação desse imaginário racista. Assim, a expansão da fotografia e, posteriormente, do cinema serviu para difundir a hierarquia fenotípica centrada nos brancos europeus que inventaram essas tecnologias. Enquanto todos os povos não-brancos, em alguma medida definidos como imperfeitos, exibem as variadas marcas da sua segunda pele, o branco ocidental parece apresentar-se como o único grupo humano não marcado; ou seja, o único grupo cujos atributos de humanidade já estariam expressos na primeira pele, na pele puramente biológica. Obviamente, trata-se de uma fantasia, as mais das vezes inconsciente, de excepcionalidade, cujos efeitos de violência, física e simbólica, sobre todo o mundo ainda não foi suficientemente avaliada.
Essa ideologia de um corpo branco perfeito, belo, inteligente e poderoso, sem marcas étnicas que poderiam “enfeiá-lo” foi construída no contexto de uma geopolítica colonialista de inferiorização e dominação sobre os não-brancos do planeta. Tão poderosa mostrou-se, porém, que os próprios brancos passaram a não mais enxergar a sua segunda pele e começaram a construir uma imagem do poder, da riqueza e da beleza como fenômenos passíveis de manipulação através de intervenções na sua anatomia, isto é, diretamente na primeira pele. Ou seja, passou-se a intervir na primeira pele, não mais para marcá-la como exemplo de um grupo singular de seres humanos, mas como se fosse uma alteração direta da pele biológica, um aperfeiçoamento da herança genética individual.
Que fique claro, todavia, que a brancura e a loirice que se espalham hoje não se referem de fato ao fenótipo europeu predominante, mas a uma loirice virtual, ou hiper-real. Aqui, podemos corrigir ou acrescentar algo à teoria do simulacro de Baudrillard [9] : o corpo que primeiro desaparece na hiper-realidade é o corpo branco. É com o seu desaparecimento, e conseguinte auto-instauração como corpo hegemônico, que ele procedeu a desaparecer com toda a grande diversidade de corpos portadores de milhares de segundas peles, decretando-os todos meramente como corpos não-brancos. Dito com outra metáfora, o Photoshop foi inventado para retocar primeiro a pele dominante, não a pele dominada, como podemos pensar os subalternos de hoje.
Na verdade, podemos complementar os ensaios de Walter Benjamin sobre a fotografia e o cinema e os escritos de Baudrillard sobre o simulacro, acrescentando uma dimensão crucial que lhes escapou: que todas as tecnologias modernas da imagem, incluindo a fotografia e o cinema, logo após sua invenção, foram colocadas a serviço de um projeto racista fenotípico. As tecnologias da imagem, além de introduzirem novas sensibilidades (como nos alertou Benjamin) e novas armadilhas sensíveis (como teorizou Baudrillard a partir do trompe l´oeil, por exemplo) se dedicaram não tanto a retratar, mas a produzir representações da hierarquia fenotípica dos seres humanos.
No início do extraordinário filme Moloch [10] , de Aleksandr Sokurov, quando Hitler cumprimenta Eva Braun ao entrar no chalé, ele lhe dirige o então maior dos elogios: “Eine Antike Schönheit!” (Uma beleza clássica!). Esse significante Antike, tão presente nos filósofos e historiadores da arte alemães a partir do chamado Renascimento, une os dois pólos da idealização de uma pele branca sem marcas e de preferência coroada por um cabelo loiro: o “grego antigo” e o “alemão (ariano ou germânico?) moderno”. Como sabemos, essa idealização estética, mais do que agonística, foi letal para milhões de seres humanos na metade do século XX e ainda o é hoje em dia. Resta saber até quando continuará sendo.
Um efeito devastador do uso racista da fotografia e do cinema, por mais de um século ininterrupto, foi o achatamento e a simplificação dos corpos pela bidimensionalidade desses dois sistemas de representação. A imagem bidimensional dos personagens registrados (atores ou não) pareceu retirar-lhes a segunda pele, universalizando o seu corpo como hegemônico e suscitando uma referência idealizada de beleza praticamente inatingível. Para os não-brancos, foi óbvia sua inferiorização diante dos brancos e as tecnologias cumpriram seu papel na universalização do hetero-racismo: eu sou superior a vocês, é a mensagem implícita na imagem bidimensional do corpo branco ocidental hegemônico. Mas os brancos também foram afetados. Diante do padrão “clássico” de beleza inalcançável dos seus supostos pares étnicos (os brancos representados com destaque nas fotos e nos filmes), a pessoa branca comum passou a introjetar o auto-racismo: eu sou um ser inferior no interior do meu próprio grupo.
As operações plásticas retocam a pele, mas não a marcam. A marca inscrita na pele, isto é, a segunda pele, não necessita de retoques. Por outro lado, por mais que se retoque a primeira pele, não se consegue imprimir nela uma marca de segunda pele. No mundo ocidental contemporâneo, as pessoas brancas estão desesperadamente fazendo intervenções físicas e retoques imagéticos na sua pele e na sua anatomia na tentativa de retomar alguma marca da segunda pele que sentem não mais possuir e cuja falta lhes retira a auto-estima. No auge das propostas de descolonização do continente africano, na época da luta aberta contra o racismo fenotípico ocidental, Frantz Fanon redigiu o seu libelo dramático: Pele Negra, Máscaras Brancas. [11] Hoje em dia esse predicamento continua, tão ou mais intenso quanto nos anos cinqüenta do século passado. Porém, há outro predicamento agora, fruto da carência branca de uma segunda pele: “Pele Branca, Máscaras Brancas”.
Um exemplo bem comum de auto-racismo e de hetero-racismo através de operação plástica (e bem conhecido na mídia de massa hegemônica) são as transformações do corpo da apresentadora e atriz Xuxa. Nos meados dos anos oitenta, ela diminuiu e remodelou o nariz; reduziu o volume da coxas para parecer menos voluptuosa e aproximar-se mais do corpo da boneca Barbie, que supostamente combina com sua loirice; e diminuiu também os glúteos e os seios, para parecer menos “vulgar” na sexualidade normatizada brasileira que tem como referência o corpo da chamada “mulata”. No livro de Amélia Simpson sobre Xuxa, de 1982 (cuja edição brasileira teve baixíssima circulação no Brasil, aparentemente porque a própria apresentadora mandou comprar a maioria dos exemplares impressos e os destruiu), pode-se ver, na pág 142, em uma foto sua ao lado de Pelé, como era o seu nariz original (menos “branco europeu”, digamos); e na foto da pág. 141 suas coxas são mais grossas que as de hoje e seus glúteos mais proeminentes. Já os seus seios, aparentemente foram reduzidos naquela época e mais recentemente, após a maternidade, foram de novo aumentados.
Exemplos espetaculares de manipulação auto-racista da primeira pele, tão comuns nos Photoshops, podem ser apreciados no site da companhia iWANEX Studio. Folheando seu portfolio de grandes celebridades podemos destacar as duas fotos da cantora Beyoncé, antes e depois dos retoques para deixar sua imagem mais “clássica”. As alterações são realmente drásticas e, a partir do que ali ficou representado do seu corpo biológico (isto é, da sua primeira pele antes das inevitáveis plásticas), provavelmente muitos de nós não a reconheceríamos se a encontrássemos casualmente em algum lugar público. Eis o que fez iWANEX com o corpo fotografado de Beyoncé: afinou a sua cintura e retirou-lhe os “pneus” da barriga; corrigiu e alinhou a ossatura um pouco saliente do ombro direito; eliminou a flacidez e até o formato natural do braço direito; reduziu drasticamente a batata da perna; retirou as olheiras; levantou as sobrancelhas de modo a tornar mais evidente a cor clara dos olhos; corrigiu a coxa; como no caso da Xuxa, diminuiu os seus glúteos para parecer menos “africana” e mais “européia”; levantou os seios; clareou e alisou os cabelos; arrumou a bochecha; eliminou uma pequena arruga do lado direito do nariz. E o que mais importa no racismo fenotípico moderno: clareou bastante a sua pele.
Um grande exemplo de representação da beleza de segunda pele de um corpo não-branco é a foto que Pierre Verger tirou de Mãe Senhora, que foi uma das mais famosas mães de santo da Bahia e, por muitos anos, a iyalorixá do candomblé Axé Opô Afonjá de Salvador. Nessa foto magistral, reproduzida na capa do livro feito em sua homenagem, Mãe Senhora exibe uma beleza majestática deslumbrante, sem nada dever às proporções “clássicas” de Eva Braun, Madonna, Xuxa, Beyoncé ou equivalentes que recusariam seu sobrepeso, seus seios excessivos ou mesmo a sua cor retinta e as suas marcas de nação que a enraizavam na comunidade religiosa de matriz africana no Brasil.
Assim como os não-brancos resistem com a sua segunda pele ao hetero-racismo fenotípico, também muitos brancos oferecem resistência contra o auto-racismo que também lhes inferioriza através da imposição de um padrão fenotípico idealizado e inalcançável. Tal é o caso do movimento punk britânico, por exemplo, nos anos setenta, que introduziu para os jovens brancos um modelo de cabelo não-“clássico”, não-ariano, não-branco: o moicano, inspirado no modelo de beleza dos índios norte-americanos, grupos étnicos não-brancos que foram massacrados durante os últimos séculos da modernidade pelos anglo-saxões brancos. Introduziram também, em outro gesto estético de solidariedade, o piercing no nariz, inspirado também na beleza da segunda pele de vários grupos étnicos não-brancos da Índia, habitantes justamente do sub-continente que foi devastado pelo colonialismo britânico por mais de três séculos.
Assim, uma vez compreendida toda a dramaticidade e a letalidade do racismo fenotípico ocidental contemporâneo, que se globaliza através das poderosas tecnologias de imagem, físicas e virtuais, é preciso incentivar e apoiar a resistência da segunda pele que une todos os oprimidos, não-brancos e brancos, vítimas tanto do hetero-racismo como do auto-racismo. Não uma, mas milhares de belezas “clássicas” diferentes a se construir nos quatro cantos do mundo.
Referências bibliográficas
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[1] As idéias deste ensaio, aqui apresentadas de forma extremamente concisa, são desdobramentos de outras discussões sobre a indústria cultural contemporânea. Cf. CARVALHO, José Jorge. “Transformações da Sensibilidade Musical Contemporânea”, Horizontes Antropológicos, Ano 5, No. 11, 59-118, 1999. CARVALHO, José Jorge. “A Morte Nike: Consumir, o Sujeito”, Universa, Vol. 8, N° 2, 381-396. Universidade Católica de Brasília, junho, 2000. Contei aqui com a ajuda de Jocelina Laura de Carvalho e Ernesto Ignacio de Carvalho.
[2] KRISTEVA, Julia. “Women’s Time”, Signs, Vol.7, No.1, 5-25, 1981.
[3] DIOP, Cheik Anta. Civilisation ou Barbarie: Anthropologie sans Complaisance. Paris : Présence Africaine, 1981.
[4] BERNAL, Martin. Black Athena. The Afroasiatic Roots of Classical Antiquity. New Brunswick : Rutgers University Press, 1987.
[5] ISAAC, Benjamin. The Invention of Racism in Classical Antiquity. Princeton: Princeton University Press, 2004.
[6] BENJAMIN, Walter “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” & “Pequena história da fotografia”. Em: Obras Escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 1985.
[7] Cannibal Tours . Dir: Denis O´Rourke, 72 min. Austrália: CameraWork, 1988.
[8] HESSE, Hermann. O Jogo das Contas de Vidro. São Paulo: Editora Brasiliense, 1969.
[9] BAUDRILLARD, Jean. A Troca Simbólica e a Morte. São Paulo: Edições Loyola, 1996; BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio D’agua, 1981.
[10] Moloch. Dir: Aleksandr Sokurov, 108 min. Rússia, Alemanha, França, Itália, Japão,1999.
[11] FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Rio de Janeiro: Editora Fator, 1983.
José Jorge de Carvalho é professor do Departamento de Antropologia (UNB) e Pesquisador do CNPq. Foi Professor das Universidades de Queen's de Belfast, Rice University, Universidade de Wisconsin-Madison e Pesquisador Visitante na Universidade da Flórida. É autor dos livros Cantos Sagrados do Xangô do Recife, Mutus Líber, O Livro Mudo da Alquimia, O Quilombo do Rio das Rãs (org.), Rumi - Poemas Místicos e Os Melhores Poemas de Amor da Sabedoria Religiosa de Todos os Tempos.
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