26 junho 2006

Para ler no sofá

LIBERATI (Cronista e chargista do Jornal do Brasil)

Sem perder esportiva
Tenho muitas dúvidas, algumas do tamanho de continentes. Mas quanto ao esporte, não pago pensão alimentícia a nenhuma incerteza. Ele foi inventado para superar a agressividade do homem das cavernas. Acredito que nas primeiras partidas de futebol, por exemplo, a bola, era o crânio do inimigo.Com o passar do tempo, em vez de trucidar o antagonista, o troglodita passou a disputar quem levantava a maior pedra. O vencedor, batia no peito e urrava e o seu grito ecoava, intimidando seus rivais na savana primeva. Quer dizer, ninguém mais ia na jugular, o objetivo agora era humilhar o adversário, mostrar sua fraqueza. Depois não se sabe o que aconteceu, creio que vieram os campeonatos de cuspe a distância, arremesso de baixinhos e anões, torneios escatológicos e com o passar dos séculos se chegou à sutileza da ginástica olímplica, à delicadeza da marcha atlética (aquela em que o sujeito rebola, mas não tira os pés do chão) e à “finesse” do nado sincronizado. Claro que existiram alguns desvios. O esporte esteve, muitas vezes ligado à política e ao controle das massas, principalmente entre os romanos, como se sabe apreciadores de um bom spaghetti.Lá o espetáculo dos gladiadores, serviu aos propósito da dominação dos Césares no que se chamou “programa pão e circo zero”. Para deleite do povo, brutamontes se arrebentavam na arena do Coliseu. Como aperitivo tinha sempre um manjar de cristãos, que antecipando o imposto de renda, eram literalmente jogados aos leões. Bem, é claro que no meio do caminho sobrou gente. Os mais fracos, os inábeis e ruins de bola ficaram de fora e aproveitaram o tempo livre para desenvolver a poesia,(que no começo era uma arte de puxar o saco do herói, que geralmente era um predador – lembre-se de Ulisses de Homero). Os mais “espírito de porco” aprimorarm a arte do chiste, os introspectivos a literatura, os que gostavam de rabiscos aperfeiçoaram as artes plásticas e os que queriam imitar os deuses trataram de botar a mão na massa e inventaram a escultura. Os mais chatos transformaram-se em críticos e os ricos em mecenas e vai por ai…
Mas a atividade humana que mais se manteve perto do homem primitivo foi o esporte. Rolou um discurso que fabulou esse negócio de fairplay, de que “o importante é competir” e outras conversas para boi dormir. Mas no fundo, todo mundo quer mesmo é vencer e se possível com o pé no peito do oponente enquanto ele pede penico. Quem ler isso, vai achar que não gosto de esporte. No que se enganará redondamente. Sou maluco por futebol, mas alí na tela da TV , se possível de 54 polegadas. Não tenho mais idade para o viril esporte bretão. Estou mais para fisioterapia, sabe como é, desvio de coluna, não dessa coluna, mas da cervical, aquela que sofre devido à nossa insistência em caminhar sobre duas pernas. Falando no ludopédio ou balípodo tenho visto muito craque de fim-de-semana engessado. Por isso prefiro eu e minha camisa amarela no sofá. Vai Brasil!