11 agosto 2006

VARIG SINÔNIMO DE VENGONHA E FALTA DE RESPEITO

Quando assistia as notícias na TV , ficava imaginando que não gostaria de passar por uma situação como essa nunca!! Pois bem, achava que estava livre dessa vez pois não havia programado nenhuma viagem, apenas lamentava pelas pessoas que se encotravam naquela situção. Mas não é que uma tia minha de repente liga dizendo que estava de vôo marcado para chegar em Recife vindo de Portugal e que iria embarcar no mesmo dia para o Rio. Quem disse?! Foi aí que começou a nossa via crucis.... em meio a vai e vem, explica aqui, pede ali, andando pra lá e pra cá no saguâo do aeroporto de Recife, implorando a um e a outro algo que parecia impossível, ou seja, conseguir embarcar em um vôo para o Rio de janeiro, tendo já pago com antecedência e muito caro pela passagem, mas parecia que estávamos pedindo favor. Uma senhora idosa, com problemas cardíacos, implorava junto comigo e minha família por um pouco de respeito e dignidade...em vão!!! É lamentável que tenhamos que passar por estas situções para perceber o quanto somos pouco importantes em um mundo dominado pelo dinheiro.

PS: Uma dica para os compradores da VARIG. Mudem de nome se quiserem continuar no mercado e não falem pra ninguém!!!!!!

Camuflagem


Camuflagem, originally uploaded by ajmatos.

Amor gramatical

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com aspecto plural, alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda jovem, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por literatura e filmes ortográficos.

O substantivo gostou da situação. Era o prefácio que ele esperava: os dois a sós, sem ninguém ver nem ouvir. Não perdeu a oportunidade, começou a se insinuar, com perguntas e paráfrases. O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára. Ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a se movimentar: só que em vez de descer, subiu e parou justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal para convencê-la a entrar em seu aposto.Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em hiato, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um cedilha com gelo para ela. Ficaram conversando, confortavelmente instalados num acento, quando ele voltou à tônica, usando seu experiente adjunto adverbial. Vendo o objeto direto do seu desejo totalmente entregue à voz passiva, rapidamente lançou-se ao imperativo. Abraçaram-se numa pontuação tão minúscula que nem um período simples passaria entre os dois.Mas, apesar dos tremas e vocativos, ela resistia. Quando tentou soletrá-la, ela saiu de si: desferiu-lhe um travessão que o fez cair do acento. Oxítona como um pimentão, ela estendeu-lhe as aspas para ajudá-lo a levantar-se, e então confessou que ainda era vírgula. Depois de um silêncio infinitivo, ela ergueu-se numa ênclise e dirigiu-se intransitiva para a porta.Foi quando soou o tritongo. Num hífen, ele pulou para frente da porta, impedindo-a de abrir, com os olhos assustados de um sujeito indefinido. Tocaram de novo o tritongo, enquanto ela o olhava interrogativa, aguardando um complemento verbal qualquer que justificasse aquele adendo. Gramaticalmente, ele gesticulou para que ela se escondesse dentro do vocabulário, dizendo que depois lhe explicaria tudo.Isso é o cúmulo do gerúndio!, exclamou ela, abrindo enfim a porta.Surgiu então uma proparoxítona hiperbólica, cheia de bijuterias e asteriscos, exalando uma locução forte e barata.O que é esta trissílaba está fazendo em nosso aposto?, disparou.Metendo-se no meio das duas, o substantivo assumiu um ar circunflexo e disse que ia botar os pingos nos is, começando uma longa oração adjetiva explicativa: não havia ali nenhuma relação de gêneros envolvida; o artigo feminino era apenas uma vizinha que viera lhe pedir um colchete emprestado; conversavam a respeito do verbo auxiliar do prédio, cuja mãe estava com um adjunto adnominal incurável; estavam pensando em recolher proposições que... mas o próprio artigo feminino o interrompeu, soltando o verbo:- Eu é que não tomarei particípio neste bando de metonímias!, gritou superlativa, e aplicou-lhe um tritongo nasal que o fez cair de joelhos. Em seguida saiu, batendo a porta.O substantivo, então, voltou-se para sua proparoxítona:
- Não me venha com redundâncias! Quer saber a verdade? Sempre achei você um substantivo abstrato. Um mero ponto-e-vírgula, um diminutivo. Você não vale um til! Está vendo esta aliança? Pode mandar prolixo! E ponto final."Bem que me avisaram que toda proparoxítona é a acentuada...", pensou o substantivo. Sozinho em seu aposto, pôs-se a fazer um sumário sobre o ocorrido. No fim das crases, o pretérito havia sido mais-que-perfeito: conseguira livrar-se da proparoxítona, com quem a ligação já estava ficando um tanto defectiva. "Só espero que aquele artigozinho feminino não faça uma metáfora de mim para todo o edifício". Ele não queria que a verborragia chegasse aos ouvidos da vogal do 507, com quem sonhava viver uma conjunção coordenativa conclusiva. Era preciso reconhecer: ela tinha um conectivo de fechar o parágrafo!


Autor anônimo