Este blog tem a pretensão de promover cultura, discutir informações e entreter através de imagens, vídeos e artigos. Colabore com artigos e sejam bem vindos! Obrigado
02 julho 2006
Mundo se decepciona: "Brasil, órfão de jogo bonito"
Os jornais espanhóis não perdoaram a proposta burocrática da equipe de Parreira em buscar apenas o futebol de resultado. O diário Marca destaca que "a França elimina um Brasil órfão de jogo bonito".
O compatriota As se mostra mais ácido e diz que a "mentira brasileira foi desmascarada" e vai embora do Mundial sem mostrar o que a Argentina mostrou em qualidade, como a goleada frente a Sérvia e Montenegro por 6 a 0. Além disso, afirma que o "Rei" Zidane levou sua equipe à vitória, como em 98
Na última Copa do século XX, Zidane fez dois gols na final contra o Brasil, que era o grande favorito - como nesta Copa - e acabou derrotado por 3 a 0 pelos anfitriões.
No país vizinho, a derrota de seus maiores rivais serviu de banquete para que os argentinos pudessem aliviar a dor da desclassificação da seleção do país, um dia antes para a Alemanha, depois de empate por 1 a 1 no tempo regulamentar e de derrota nos pênaltis.
O Olé, conhecido por suas provocações aos brasileiros, escancarou neste domingo e escreve na capa do jornal: "Merdeamarela". Em seguida, ironiza e diz que os brasileiros se enganaram ao pensar que tinham apóio do jornal.
"Confiantes e ingênuos, os brasileiros pensavam que iriam levar o hexa, sem jogar e com apoio do Olé. Mas, por favor. França os tirou do Mundial com um baile. Vergonha, isso foi uma vergonha, um papelão histórico".
Não satisfeito, o diário afirma que os argentinos, com o coração partido, não precisaram de aspirinas, nem remédios. O vizinho foi farmacêutico e nos tinham um santo remédio chamado "Adeus Penta".
Agora, pela Copa, a França faz uma das semifinais contra outro brasileiro: o técnico de Portugal, Luis Felipe Scolari, no dia 05 de julho, às 16h, no Allianz Arena, em Munique.
E a imprensa lusitana se mostra preocupada com a adversária, a qual venceu seus últimos sete confrontos contra os portugueses, sendo a última ocorrida há 31 anos, segundo o jornal Record , que define a França como: "o lado negro da força".
Também na Europa, o jornal inglês Guardian diz que o Brasil permanece único na história das copas do mundo, por ser pentacampeão e único time sul-americano a vencer um Mundial na Europa, em 58 na Suécia. Apesar da lembrança, o diário diz que os brasileiros foram nocauteados por uma França que sempre se impôs na partida de igual para igual.
Com motivos de sobra para comemorar, os jornais franceses encharcaram suas páginas com a vitória do time do técnico Domenech. O L'Equipe diz que o time de seu país fez uma partida excepcional, com uma atuação de ouro do triângulo Zidane-Vieira-Makelele.
O L'equipe afirma que os campeões do mundo foram vencidos psicologicamente e tecnicamente pelos homens de azul.
Pelo lado da Itália, o La Gazzeta dello Sport diz que "a ressurreição de Thierry Henry dá à excelente França o adversário de Portugal" e que o resultado foi um "veredicto incontestável".
O compatriota La Repubblica destaca que o capitão do time da França se confirma como o melhor de seu time, seleção que desclassificou os nunca-perigosos brasileiros.
Já pelo lado do país anfitrião da Copa, o Bild comemorou o fato de o time de Viera ter avançado: "Vive la France!". O diário defende que Zidane foi muito forte para o Brasil, como em 98.
O também alemão Die Welt.de afirma que a França chutou para longe o detentor do título mundial, o Brasil, dizendo que o "Golden Gate" da vitória na Copa da França, Zidane, deu o passe para a conclusão perfeita de Henry.
01/07: Somos Dionísio
GUSTVO ALMEIDA (JB ONLINE)
A cidade ficou triste, é fato. Mas acredito que a pouca tristeza que há pelas ruas é mais pela festa que não aconteceu, pela cerveja não bebida, pelos beijos não dados, do que por esta seleção tão sem identificação com o povo brasileiro, tão pouco representativa em seu modo de ser, de agir, de ver a vida. A festa seria bonita - mas não foi porque a Justiça foi feita pelos pés de um gênio que não treme na hora de decidir, o tal Zidane. Que se dane a Pátria - é o que parece me dizer o Roberto Carlos, amarrando as chuteiras na hora do golaço de Thierry Henry, gol este que selou a partida de vez - era nítido que o Brasil não conseguiria o empate. Zidane mandou no jogo.
Por mais que as lágrimas existam, há coisas que foram derrotadas junto com esta seleção pelas quais a gente nunca torceu. Certas concepções e estereótipos são estranhos ao brasileiro, daí a total capacidade de a gente se adaptar à idéia de "ganhar jogando feio".
Uma idéia que era propagada pelo técnico Carlos Alberto Parreira o tempo todo, como se fosse a única alternativa, a de ganhar jogando mal. Ora, como assim? Por que vincular um conceito ao outro?
A briga destes modos de ver a vida tem a ver com as questões do Apolínio/Dionisíaco - e aqui não estamos dando uma de intelectual de botequim. O brasileiro tem sangue quente, o trópico nos alucina. Não queremos a vida certinha e regular. Amamos o mata-mata, o drama, a tragédia com apogeu e fim, a lágrima e a emoção da vitória ou da derrota - daí a nossa resistência aos pontos corridos, mesmo diante do argumento de que "premiam o time mais regular". Ora, de "regular" já basta a nossa rotina: acordar, pegar um ônibus, ir ao trabalho, levar bronca do patrão, almoçar no restaurante a quilo, tomar café, ir embora, pegar engarrafamento e de 12 em 12 meses pleitear férias que serão parecidas com as do ano passado.
Esta é a vida ordinária - na acepção pura da palavra, no sentido de ordem, de monotonia. Quando buscamos o esporte, o futebol, a paixão, é só para satisfazer nosso desejo do imponderável, do imprevisível. Somos Dionísio, Baco, fervemos no vinho e no sangue. Não queremos levar para um campo de futebol ou a tabela do campeonato a monotonia do ônibus no engarrafamento ou do salário no dia 5. Como me disse certa vez o Marcelo Yuka, ex- Rappa: "O drible às vezes vale mais que um gol", referindo-se a Júlio César, ponta-esquerda do Flamengo nos anos 80.
Parreira disseminava a repulsa ao risco de jogar bonito, de jogar dionísio. E representava esta maneira de ver a vida. Tanto é que jogamos feio e agora não temos nada - ora, foram cinco jogos péssimos. Tirando, claro, parte do jogo contra o Japão, não houve mais nada que valesse a pena. Valeu a pena ouvir tantas vezes o discurso de que jogar bonito não basta para entrar para a história, é preciso ser campeão? Pois bem, jogamos feio e fizemos história. Mas com h minúsculo.
E se Ronaldinho Gaúcho tivesse feito firulas, Ronaldo Fenômeno marcasse diversos gols, Robinho pedalasse mas MESMO ASSIM o Brasil ficasse fora?
A diferença é esta: as lágrimas seriam, sem dúvida, muito maiores. Porque amamos o risco, tudo aquilo que nos faz esquecer da vida normal, sem cheiro nem sabor. Apolo é para os bretões, alemães, talvez suecos - opa, italianos, franceses e portugueses estão fora disso. Estas semifinais serão sintomáticas quanto a isso: se verá grande sofrimento nos respectivos países que forem eliminados - já se a empolgadíssima Alemanha perder, o máximo que se ouvirá serão alguns PQPs em germânico e olhe lá. Nenhum deles se comparando às nossas tragédias, ao nosso 1982, ao nosso 1986 - ao nosso 1950. Sempre que perdemos, desviamos um pouco o curso de nossa história - e é isto o que talvez mais nos faça brasileiros. E também o que mais faz desta seleção estrangeira - sua derrota não alterará nem a macarronada de domingo do brasileiro.
Acabou a Copa do oba-oba, do cantar vitória, da "geração que superaria a de Pelé" e de tantas outras firulas que inventaram. Acabou a Copa em que, de 10 comerciais na TV, 7 tinham jogadores da Seleção Brasileira. Acabou a Copa em que se tentou proibir a crítica (algo quase tão secular quanto a prostituição) de dizer que quem estava mal estava mal. Não havia ninguém mal, havia apenas "recordistas". Acabou a Copa da Legião Estrangeira, da Seleção dos tempos modernos - a seleção que não tem o Júnior do Flamengo, o Roberto Dinamite do Vasco, o Rivellino do Fluminense, o Sócrates do Corinthians, o Careca do São Paulo. Aquela seleção com a qual esbarrávamos na esquina da Domingos Ferreira com a Siqueira Campos. Hoje, pessoal, a vida é outra - somos torcedores-visitantes, não estamos mais tão em casa. Dizer que "a Seleção Brasileira vai voltar para casa" pode apenas significar que os caras vão pegar um trem. Não é patrulhamento "financeiro", já que houve seleções de jogadores ricos e que nem por isso deixavam de ter raça. Mas apenas uma constatação: nossas lágrimas precisam ser mais caras, pelo menos a metade do preço dos nossos jogadores. Somos Dionísio, bebemos vinho, queremos dar nosso sangue, mas estamos longe demais de Frankfurt. É pena.