11 novembro 2010

Viver Intensamente: Os filhos e a permissividade dos pais



Esta reflexão foi feita a dois.
Começou com um texto que o Luigy me mandou sobre limites, escrito por Monica Monasterio (Espanha).
A conseqüência foi como o rolar de uma bola de neve.
Uma conversa leva à outra, uma reflexão leva à outra e hoje meu companheiro com muita propriedade escreveu seu desabafo e eu complementei.
Coloco a seguir a nossa reflexão e desabafo:


Olá amigos,
Afinal caiu minha ficha.
Ao reler a matéria enviada pela amiga Cida Lorenzini intitulada "Limites" acabei revendo uma angústia que há muito conflitava a relação com meus filhos e os jovens em geral.
Esse texto está maravilhoso para o meu entendimento.

Por muito tempo remei no sentido contrário do modismo.
Porém não conseguia captar o real significado e traduzi-lo para a prática.
Após algumas trocas e bate papos com os amigos e amigas veio o insight.
Nao se tratava de uma simples bronca em cima da moçada... Afinal, eles não têm culpa alguma.
O buraco era mais embaixo.
O texto "Limites" acertou bem no alvo.
Fomos nós os pais, geração "Hippie" e do pós guerra que relaxamos em tudo e que perdemos o fio da meada. E ainda não percebemos esse erro.
No intuito de amenizar os estragos da geração anterior abrimos a porteira. Confundimos Amor com permissividade. Quisemos negar o autoritarismo e, ao invés de usar do Amor com Autoridade, nos omitimos. E quando nos demos conta do mal que fizemos o circo já estava em chamas.
Os filhos sem ter noção do embrólio que receberam de presente, foram fundo em suas exigências, pedidos, solicitações etc e tal. E foram atendidos.
Antigamente presente para as crianças era no máximo três vezes ao ano - aniversário, dia das crianças, natal e olhe lá!
Hoje as crianças recebem presentes de todos os tipos a qualquer momento. Tudo é feito no sentido de fazê-los consumidores.

Viva a Xuxa! Viva Os Trapalhões! Viva Os Simpsoms!
Sem perceber entramos na competividade do capitalismo selvagem e esquecemos de ensinar aos nossos filhos "o fazer as coisas pelo puro prazer de fazer, o de fazer as coisas com amor" - Carpe Diem - Colha o Dia.
Envolvidos pela competição desenfreada e pela sobrevivência permitimos que nossos filhos nos olhem de cima prá baixo, porque afinal de contas a maioria de nós pais não têm MBA como eles. Nós pagamos sua educação! Nós permitimos e não ensinamos que a competição deve ser consigo mesmo, não com o amigo, vizinho ou desconhecido.

Engolidos pela competitividade não se tem mais horário de nada, para nada.
Nossos filhos saem e não tem horário para voltar e de preferência nem dizem aonde vão.
Dormem a hora que bem entendem e acordam quando dá vontade.
Mesmo aqueles que já são adultos, trabalham, estudam e vivem conosco, querem usufruir apenas das regalias do teto sem participar e compartilhar o viver em família. 

O teto é nosso, dos pais, construído por nós e eles usufruem sem se empenhar em construir um ninho para eles. Claro que tudo isto é uma síntese do que ocorre por aí...
Responsabilidade deles? Não! Nós permitimos!
Quando as mães saíram para ganhar mercado deu-se a ruptura do tênue equilíbrio que havia. A mãe delegou a função de orientadora e cuidadora às cheches, babás, avós e escolas. E consumidas em culpa permitimos, permitimos, permitimos...
Nada errado em ganhar mercado. Pois essa permissividade também ocorre com as mães que não trabalham fora. A dinâmica é a mesma, às vezes pior até (basta ver aqueles programas da Super Nanny). 

Errado é consumir-se em culpa e permitir. 
Errado é omitir-se da função de cuidadora. 
Já se diz há muito tempo que o que importa não é o tempo que passamos com os filhos, mas a qualidade da relação que estabelecemos com eles no pouco tempo que temos com eles. Repetimos esse conceito feito papagaios, porém a prática inexiste.
E os pais, ah os pais. No intento de sensibilizar-se e trabalhar mais o lado feminino, deixaram de ser machistas e autoritários como foram seus pais, mas se enfraqueceram. 

Não souberam trabalhar a autoridade e se omitiram. Era melhor deixar a função do "Não", da disciplina, do limite com os avós, as professoras, as "tias". Nos omitimos, omitimos, omitimos...
É função dos avós mimar, suavizar, amenizar e tentar transgredir a disciplina e o limite dos pais. 
Nós viramos tudo de cabeça para baixo nos tornamos pais-avós!
E o casal, existe casal? Pode-se contar nos dedos os casais que permaneceram juntos por pelo menos uma geração.
Não desenvolveram a cumplicidade, a amizade, a parceria, o amor verdadeiro, a paciência.
Quiseram fugir do casamento de aparência, de mais de quarenta anos dos pais, e caíram numa cilada pior.
O sexo acabou? Procura-se outro. Afinal hoje tudo é permitido.
Sexo é bom? Maravilhoso! É um dos momentos mais íntimos e grandiosos que dois seres podem compartilhar. O problema não é do sexo é o que fizemos dele e com ele!
A paciência acabou? A culpa é dele. A culpa é dela. E vamos prá outra!
E as juras de amor foram prá onde? Acabaram na última transa? Foram procurar o que é que se faz quando a novidade sexual começa a esmorecer? Quando os conflitos inevitavelmente surgem? Tentaram conversar? Ouvir realmente um ao outro sem acusações? Juntaram esforços para entender e praticar as promessas feitas no dia do casamento (não importando se foi na igreja, cartório, mesquita, ou na praia...)?
E mesmo pais e mães solteiros ou separados tentaram estabelecer uma relação saudável com os co-produtores desses filhos? Ela diz: - "Não precisa eu me basto. Sou mais "macha" que muito homem". Ele diz: - "Não precisa eu me basto. Sou mais mãe que muita fêmea".
E hoje estamos todos, aos 50, 60 anos, com corpinho de trinta, orgulhosos por sermos atletas sexuais e podres emocionalmente. Sozinhos, profundamente sozinhos e reféns de nossos filhos. Ou alguém nega que em algum momento não tentou comprar o amor de seus filhos? Já que não soube construir uma relação de amor verdadeiro com seus (suas) parceiros (as) e muito menos com os filhos...
Hoje os filhos (as) trazem namoradas (os) para casa e não raramente acabam indo para os quartos "para namorar".
A mãe deste menino nada faz para impedir...
A mãe da namorada também, às vezes nem sabe ou não quer saber...
E o pai cadê o pai? Provavelmente dormindo com a filha (ou o filho) de alguém... É mentira? Afinal somos atletas sexuais.
Tá tudo dominado! Nós permitimos!
Pergunta: Nós tivemos essa moleza?
Para animar esta reflexão trazemos abaixo o texto inspirador de Kalil Gibran Kalil que povoou muitas cabeças nos anos 60/70.
Vejam também o texto Limites: fugimos de nossos pais e caímos cativos dos filhos
Provavelmente esta reflexão despertará críticas e o propósito é esse mesmo.
Se gostar passe prá frente, inclusive aos filhos, pois a discussão apenas começou...
Um abraço fraterno aos pais cinqüentões como nós, aos pais mais recentes e aos futuros pais...

Luigy e Imma

Os Filhos (Do Livro "O Profeta")


Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele falou:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.
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"LIMITES" de Monica Monasterio (Madrid-Espanha)

Somos as primeiras gerações de pais decididos a não repetir com os filhos os erros de nossos progenitores. E com o esforço de abolir os abusos do passado, somos os pais mais dedicados e compreensivos mas, por outro lado, os mais bobos e inseguros que já houve na história.
O grave é que estamos lidando com crianças mais "espertas", ousadas, agressivas e poderosas do que nunca.
Parece que, em nossa tentativa de sermos os pais que queríamos ter, passamos de um extremo ao outro.
Assim, somos a última geração de filhos que obedeceram a seus pais e a primeira geração de pais que obedecem a seus filhos.
Os últimos que tivemos medo dos pais e os primeiros que tememos os filhos.
Os últimos que cresceram sob o mando dos pais e os primeiros que vivem sob o jugo dos filhos.
E o que é pior, os últimos que respeitamos nossos pais e os primeiros que aceitamos que nossos filhos nos faltem com o respeito.
À medida em que o permissível substituiu o autoritarismo, os termos das relações familiares mudou de forma radical, para o bem e para o mal.
Com efeito, antes se consideravam bons pais aqueles cujos filhos se comportavam bem, obedeciam suas ordens e os tratavam com o devido respeito. E bons filhos, as crianças que eram formais e veneravam seus pais.
Mas, à medida em que as fronteiras hierárquicas entre nós e nossos filhos foram-se desvanecendo, hoje, os bons pais são aqueles que conseguem que seus filhos os amem, ainda que pouco os respeitem.
E são os filhos quem, agora, esperam respeito de seus pais, pretendendo de tal maneira que respeitem as suas idéias, seus gostos, suas preferências e sua forma de agir e viver. E além disso, os patrocinem no que necessitarem para tal fim. E seus palpites também. "Exercem pressão para direcionar a trajetória dos pais, para que isso nao atrapalhe seus planos futuros".(LCM)
Quer dizer: os papéis se inverteram, e agora são os pais quem tem que agradar a seus filhos para ganhá-los e não o inverso, como no passado.
Isto explica o esforço que fazem hoje tantos pais e mães para ser os melhores amigos e "tudo dar" a seus filhos.
Dizem que os extremos se atraem. ("muitos filhos talvez não tenham a devida força para o enfrentamento dos obstáculos da vida, tal a facilidade que os pais lhe proporcionam"(LCM) Se o autoritarismo do passado encheu os filhos de medo de seus pais, a debilidade do presente os preenche de medo e menosprezo ao nos ver tão débeis e perdidos como eles.
Os filhos precisam perceber que, durante a infância, estamos à frente de suas vidas, como líderes capazes de sujeitá-los quando não os podemos conter, e de guiá-los enquanto não sabem para onde vão.
Se o autoritarismo suplanta, o permissível sufoca.
Apenas uma atitude firme, respeitosa, lhes permitirá confiar em nossa idoneidade para governar suas vidas enquanto forem menores, porque vamos à frente liderando-os e não atrás, os carregando e rendidos à sua vontade.
É assim que evitaremos que as novas gerações se afoguem no descontrole e tédio no qual está afundando uma sociedade que parece ir à deriva, sem parâmetros nem destino.
Os limites abrigam o indivíduo.
Com amor ilimitado e profundo respeito.

(Gentileza de Monica Monasterio-Madrid-España)

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