27 junho 2006

Em busca de novos ares






03.05.2006 | Tudo começou há algumas semanas, quando, em casa, meu notebook captou a rede wi-fi de algum vizinho desavisado. Fiquei surpreso, mas nem tanto, afinal, já havia presenciado o fenômeno nos lares de um punhado de amigos. Curioso, carreguei-o em seguida para a sala de jantar interessado em saber se o sinal se espalhava pela casa. Mas não. Esse acontecimento banal despertou uma questão que vai muito além da configuração que a maioria dos usuários faz com suas redes locais e se permitem que suas vizinhanças utilizem seus links na camaradagem. Ela chega ao devaneio de questionar onde a internet destituída de fios vai nos levar – ou para onde vamos levá-la.

Levei o tema para alguns encontros sociais. Em geral, como todo o ser humano em sã consciência, os consultados foram unânimes em endossar a maravilha das propriedades sem-fio na informática. Citaram handhelds, notebooks e, claro, telefones móveis – bem que alguém tinha dito que já era possível ligar via VoIP através do próprio celular se houvesse uma rede wireless ao seu redor. Mais uma vez acendeu aquele sinal vermelho com a frase “onde vamos parar?” Perdi alguns segundos para me nortear, no afã de entender o que está por vir sem ser pego de surpresa.

E a pauta virou obsessão. Passei a não conversar mais com os outros sobre o mundo sem cabos, e sim a entrevistá-los. Toda e qualquer opinião era bem-vinda, desde a de consolidados especialistas até a de simpáticos boçais. As siglas tecnológicas da moda citadas nem tiveram tanto peso. O importante era entender a ótica do indivíduo moderno acerca dessas fascinantes tendências digitais.

A pesquisa beirou uma riqueza incomum de visões. Falaram de tudo, questionaram de tudo. Até que numa noite, num desses debates, houve uma espécie de estalo capaz de fazer a internet ficar mais parecida com a TV. Há quem possa referenciar também o rádio, os celulares e tudo que vier pelo ar. Mas muito mais do que fugir de um emaranhado de fios, a ausência estética dos cabos pode incidir numa valiosa gama de benefícios para gente como a gente. E o jeitão atual do que circula pelos televisores poderia inspirar uma curiosa divagação a respeito.

Quem não gostaria de uma internet livre no ar? Livre mesmo, disponível em todo e qualquer canto, para quem quiser, para quem precisar. Não há filantropia no mundo capitalista, mas com algumas horas de um raciocínio esforçado é possível chegar a uma fórmula que viabilize esta idéia sem fazer com que nenhum segmento do mercado banque esta festa boca-livre. Com um pouco de boa vontade, todo mundo pode sair bem dessa. É claro que a discussão passa por padrões de tecnologia, se wimax, wimesh ou outro “wi” qualquer. Mas, pelo menos por enquanto, o debate fica limitado ao plano filosófico da coisa.

E de onde vem o paralelo com a TV (aberta)? Da constatação de que, eventualmente e se as elucubrações acima não forem inteiramente insanas, você poderá comprar um computador e começar a navegar pela rede sem gastar mais nada por isso. A internet estará sempre disponível no ar - assim como já é feito hoje com qualquer televisor ou rádio. Ou, simplesmente, passear com o seu notebook por aí sem perder o seu sinal de conexão – considerando, claro, que em alguns lugares, assim como com a TV, os sinais da internet poderiam falhar. Pode soar estranho, mas há uma relação aí, sim.

Nesta lógica, poderíamos relacionar os sites da internet aos canais da TV. Assim, num formato de internet sem-fio liberada, a tendência seria imaginar uma série de endereços aos quais o usuário teria acesso gratuito. Os demais estariam indisponíveis e, assim como a versão a cabo da TV, quem sabe, poderiam ser acessados mediante um pagamento qualquer. Assim, será que estas poucas e privilegiadas URLs ajudariam a viabilizar este modelo? Qual seria o critério para um site constar nessa relação? Pagaria para isso? Ou seria mais interessante abrir o espaço apenas para web sites de serviços públicos, úteis para a população?

Outra opção estaria em liberar gratuitamente apenas uma velocidade de conexão razoável, suficiente para uma experiência mínima de navegação. Com ela não seria viável trocar arquivos, se divertir com games online, entre outras tantas atrações que apenas um belo link pode sustentar. Assim, o usuário precisaria pagar uma quantia para fazer o upgrade em seus laços com a internet. Afinal, moleza demais não faz bem.

Apesar do pioneirismo do rádio, criado pelo italiano Marconi no século XIX, a estrutura dos canais de TV e todo o seu desenvolvimento moderno permitem mais asas a devaneios conjunturais para o futuro. O formato utilizado pelo celular, por outro lado, se torna mais palatável e com maior possibilidade de controle da rede como um todo. Basta imaginar cada computador como um aparelho móvel, exigindo uma espécie de chip para autenticar-se junto à internet. O “chip” também ajudaria bastante nas questões de tarifação e variações acerca do tema.



De todo o modo, há décadas seria improvável arriscar nosso atual estágio evolutivo – atenção para a foto ao lado (agora desvendada como uma farsa), de origem e ano desconhecidos, porém longínquos, retratando como seria um computador pessoal no ano de 2004. Por isso, muito mais do que embasar, tantas idéias possivelmente estranhas vêm para instigar a reflexão e o debate sobre o que nos espera. Podem não fazer o menor sentido, mas servem para desafiar o nosso entendimento do que seria interessante e conveniente para nós, simples consumidores e usuários.

Invariavelmente a indústria, que nos alimenta com produtos e serviços do gênero, ditará o futuro baseado no seu poder de geração de receita associado à demanda originada pela grande massa de indivíduos que forma o mercado. Seja qual for o caminho a ser seguido, fica, no mínimo, a satisfação de saber que o próximo passo será sempre maior e mais rápido do que o anterior. Seja qual for a velocidade do próximo link, não há dúvidas de que será ainda mais veloz, também. E, parecida ou não com a TV, continuaremos ainda mais conectados.

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